É monólogo sem fim este dia a dia. Frente a árvores adultas, de grande porte, sou menos ou mais perante a Vida? Perguntas de quem julga ser útil e apenas se orienta pelas horas das necessidades básicas. Pobre por ter tudo quanto precisa e mais o que não mereça ter. Rica por reconhecer esta discrepância tranquilamente. Aceitarei o mal da mesma forma, quando ele vier? Um dia serei menos eu à espera de mão amiga que me segure? Tantas perguntas sem respostas lógicas possíveis. E imprevisivel o minuto seguinte. Dia de muito calor em plena primavera põe a sanidade mental em dúvida.Até amanhã, se vier com mais lucidez. Ainda bem que não leitores para esta folha...
Não de viver mas de fazer algo útil para alguém. Vou apenas olhar em redor de mim, não para aprender mas para observar, sem crítica e sem elogio. Ver e ver e ver. Indiferentemente.
O amor veio em visita
num botão de rosa.
E numa graça bendita
trouxe dedos de quem ousa
ir afagando a vida
enquanto nele cresce,
como se rosa fosse
a abrir no amor.
Foi uma tarde de abraços,
desses que os anjos
espalham pelos humanos,
como belos laços
que aliviam a dor.
Estas linhas são para marcar o dia. Os sons são embaladores, por serem suaves. Algumas vozes e o ruido da passarada a cortarem o silêncio. O calor da manhã ajuda-me a encontrar alguma alegria nesta forma de viver escolhida por mim. Nada mais posso sentir, por agora. É outro dia, com mais vento e mais quente. Esta espécie de diário não parece ter outro sentido senão acompanhar o outro eu que gosta de escrever sem objectivos e sem destinatários externos. Vou deixar aqui um pequeno apontamento, a que chamarei "Serão do meu Avô", que também vou guardar nos meus documentos, para mais tarde imprimir.
Ouvi contar que um homem velho esperava o anoitecer sentado à porta de casa, frente ao campo plano, de onde avistava o sol a desaparecer. E quando o tempo se tornava frio ou chuvoso se recolhia, embora mantendo a porta aberta para ver caír a noite. Até que um dia viu uma figura esguia a correr pela planicie, vinda de lado algum e à pressa para lado nenhum. Espantado aguardou saber quem era e de onde poderia ter vindo. Mas apenas lhe ficou a lembrança, pois às suas perguntas não houve uma resposta. Passou tempo. E uma tarde, quase noite, a cena repetiu-se. O homem velho, que julgava que já sabia tudo por ser velho, gritou e acenou, mas não atendido. E o vulto ía e voltava, como uma lanterna que se acendia e se apagava. A cena era agora diária e a curiosidade era grande. Assim, levantando o braço e a voz, gritou: quem és tu e para onde vais? A resposta veio rápida e nada ofegante para quem ia a tamanha velocidade: sou a morte e vou trabalhar. A voz que entrou pela cabeça e não pelos ouvidos, deixou-o gelado. Sem esperar pela noite, recolheu-se e fechou a porta. Tentou dormir mas o sono ficara fora. Alimentando a insónia, perguntava a si mesmo qual seria o trabalho da morte e porque corria tanto, de um lado para outro. Aos poucos foi perdendo o medo, voltou a dormir descansado pois se ía trabalhar é porque havia trabalho para ela algures. As tardes monótonas repetiam-se a ver o pôr do sol e a vê-la sempre apressada. Mas houve uma vez em que não a viu. Olhou para todos os lados e nada. A noite chegou. Temeu ir para dentro, não fosse ela estar a descansar em sua casa. Era mais sensato ficar na rua, pois assim vê-la-ia aparecer a caminho das suas tarefas. Pensou, mais uma vez, quais elas seriam, quando a voz que não entrava pelos ouvidos, se fez ouvir: o meu trabalho é este, vir buscar-te, como a tudo que deve renascer sob o meu impulso, em dia e minuto que só eu conheço. Por isso me julgaste a correr (embora o tempo e o espaço para mim não existam), me esperaste quando não me viste passar ao longe. Eu estava dentro de ti, porque a noite seria a tua hora sagrada.
Ouvi contar, também, que o homem velho foi encontrado à porta de casa, calmo e frio, a olhar o campo plano, em frente.