Ouvi o bater das asas.
O ar moveu-se
e tombaram folhas
dos álamos.
Algumas cairam no rio.
A água subiu
e empurrou juncos
na margem.
Um pato sonolento
grasnou.
O som da mensagem
propagou-se.
O meu pensamento
elevou-se no espaço,
em busca de Deus.
No tempo em se comunicava escrevendo e respondendo, aperfeiçoando a letra, a côr da tinta, o vocabulário, a ortografia e tudo o mais que fazia de certas correpondêcias leituras deliciosas, havia uma cumplicidade quase perfeita entre as mãos que as entregavam e as que as recebiam. Uma carta podia ser um segredo revelado, uma mensagem de alegria ou de tristeza, podia ser um mundo para ambos os lados.
Hoje ou é factura ou aviso e provém dos interesses ditados pelas obrigações que cada um aceitou cumprir.
As cartas que rasgámos - podia ser o título de um poema - foram mesmo pequenos poemas, algumas prosas poéticas, mas todas repletas de amor e emoção. Recordações sem palavras, apenas sentidas com muita saudade.