E ouço brisas e passos,
e ouço beijos e sinto abraços
de braços que o foram
em tempos idos.
E sinto mãos suaves
que me afagam
e ouço vozes, algures na lembramça,
como aquelas que nos gritam
em criança,
chamando o nosso
nome pele tarde.
E a noite em pés de medo
está atrás de um sol que arde.
Ouço a porta a ranger,
aspiro o odôr do pão quente
trazido à pressa
para se comer
entre risos, gritos e gente.
Memórias há,
duma riqueza enorme.
Mas só um leitor
pode decifrar
o código do sentimento.
O 27 era um número mágico. Era o encontro com a independência, com o estar só e mais ainda, com a concretização de um sonho. E quando revejo os locais e memorizo os acontecimentos, enalteço o meu esforço e a força interior que lhe serviu de alavanca. Tudo estava por fazer. O ideal não existe, mas quase o consegui. A ambição foi sempre sábia. Não queria muito mais do que podia. Assim fui juntando pedra a pedra, moeda a moeda, sorriso a sorriso. Ninguém sabe do que estou falando, de que número mágico tiro este riso aberto que agora ostento. Velha e feliz.