Não passo
por entre o espaço
deixado
dentro de mim.
Será que nada
é acaso,
mas a minha alma
é assim.
Sinto-me presa,
confusa,
para saír
de onde estou,
não há caminho
de volta
e não sei
para onde vou.
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Só Fernando Pessoa poderia dizer tanto em palavras tão simples. Que maravilha. Que comovente é esta forma de expressar a dor da frustação que cabe a cada ser quando recorda e analise a sua vivência. Mais nada digo. Voltando ao título, até.........
O sentido que pode ser atribuído a cada palavra pode variar conforme o tom de voz em que é dito, a compreensão do ouvinte e até o seu estado emocional. É o que tenho observado ao longo da vida. O que se sente ao ler ou a ouvir contar um acontecimento, não pode ser sentido numa simples conversa ou numa acesa discussão. E no entanto, as palavras são as mesmas, desde que não se varie de idioma. Pois nesta diversidade linguística o conteúdo da palavra já não apreendido da mesma forma. É óbvio que não pretendo fazer estudos sobre o tema, mas apenas dar aso ao prazer de escrever sobre pensamentos e ideias que me ocorrem. Apenas isso. Um prazer solitário, acalentado por um espírito inquieto.
As palavras são prisões: não apenas porque nos limitam constantemente, como também porque me parece que lhes atrbuímos significados errados. Quando penso que traduzimos "metanóia" por convertei-vos e depois, ainda pior, por fazei penitência, arrependei-vos, quando esse termo significa que o NÓS, o ESPÍRITO, voa para lá de si próprio! Que diferença, que tem marcado com o seu ferro gerações de pobres crentes, mantendo-os subjugados! "Transformai-vos" , "Entrai em metamorfose", tem um outro sabor... claramente mais próximo de nós. De facto, a alma chegou ao ponto onde o EU se decide.
Este trecho tirado da página 169, do citado livro, é por si só, um vasto conjunto de ideias acessíveis para quem encontra prazer em desenvolver e comparar os seus conhecimentos com outros já culturalmente superiores. Neste espaço poderei envolver-me em conversas sobre as traduções tidas como indiscutíveis e as várias tendências a que as mesmas estão sugeitas. Por hoje, mais não devo adiantar.
Já começou a experiência de tudo ser novidade. O local a que se chama CASA, o convívio, o carinho de gente desconhecida, os cheiros e os olhares até agora sem significado, impondo-se no cotidiano para ser analisado e absorvido pelos sentidos. Mais tarde, após o choque inicial, terei que opinar, de mim para mim, nestes secretos monólogos que por hábito tenho, ajuizar o que ganhei, pois nada perdi além das obrigações que enchiam o dia a dia. E agora é só viver, atenta à Alma que em mim está fazendo o seu caminho.