Ouvir cantar estes líricos da natureza é um prazer imenso. Todas as tardes há um concerto de vozes e trinados a encher de graças as nossas vidas. Pena é que não seja ouvido por todos os residentes, por distração ou deficiência auditiva. Não sei e nem pergunto, pois a pergunta até pode parecer tola a quem vive com pouca atenção ao exterior. E, no entanto, este jardim está cheio de prazeres para os nossos sentidos. Até a chuva lhe dá beleza, com reflexos das plantas nos vidros molhados. Assim são os risos de cada dia, dádivas que podem animar os velhos corações.
Aparentemente não modifiquei a face ou o andar ou as frases feitas que todos usamos, sem dar por elas. Serei eu em consciência, com o peso da responsabilidade pela vida que construo, vivendo. Mas pergunto a esta, então... e onde está a outra? A que aparece sem hora, cheia de tudo? Que é activa, artista e poeta e que se rebela à corrente que me vai tolhendo? Talvez viva no "mundo das ideias" e de lá desça para enriquecer o meu tempo. E por vir de fora é estrangeira. Quando chega, dá brilho aos olhos e calor ao sangue. Vem com imagens novas na ponta do lápis ou coisas atrevidas para concretizar. Esta é uma fórmula que inventei e me diverte: encontrar outra em mim, que justifique os pensamentos desordenados deste cérebro usado.