Aqui, onde vivo, tudo se move em redor do cuidado, da atenção e de uma comunidade aparentemente sólida, entre pessoas que entram e esperam que tudo se mova em seu redor e as que já estando inseridas nela, apenas aguardam a hora de a deixar para sempre. As palavras são duras, mas o assunto também o é. Nesta bela residência, onde se paga o carinho e a palavra amiga (muitas vezes sincera), vive a doença e a velhice, uma na outra, num caminho sem volta, mas que pode ser usado com ousadia e um certo desprendimento. Mesmo com angústia por quem sofre, podemos libertar-nos desses constrangimentos e usar o tempo para namorar a Vida.
Com o "rato" inventei um vaso e nele semiei um sonho. E senti a juventude da primavera. ainda a viver a esperança intacta, como só a criança sente. O fundo amarelo sugere o sol, que as nuvens não deixam hoje ver. E o dia, mesmo cinzento, pode florir, porque o desenho existe e o jardim também. O verde da relva, as palmeiras compactas e os pinheiros muito altos, acima dos edifícios, movendo os grandes ramos sob a força do vento. Esta é a janela para tudo que ainda vive ante os meus olhos.
De onde estou vejo um pouco de mar.
O resto é a imaginação que cria.
Assim sinto o oceano,
e nele as vagas, a espuma
e a força do movimento,
que a memória
do corpo ainda mantém.
Força bendita, cheia de sons
e de côr, de cheiros e encantamento.
Tão intensa é a lembrança do mar
que vivo nele sem ele e sem nele estar.