A alma chama o silêncio. Ele vem lento, por ser repleto de sons da vida. São dificeis de abafar, mas a alma insiste. Para entrar no silêncio tem de esvazía-lo, tirar desse centro as vozes, o cantar do merlo, que está agora a invadir o jardim. E querer para dentro, dificil de exprimir. Apenas um atalho, uma bolha volátil, algo onde encontra-Te. Sei que estás, mas é a alma que Te sente, depois do silêncio ser só silêncio. Apenas um atalho, uma porta estreita, que o tempo urge e a espera é feita de esperança. As palavras são preces que, por vezes, parecem asas a cortar os céus.
O dia é finito.
A vida é finita.
A morte sentou-se à porta.
É vermelho o pôr do sol.
E há um mudo que grita
enquanto eu leio poemas
para escrever amanhã.
A noite já vai para o dia.
São dois aspectos do tempo,
num amplexo contínuo,
reduzido a um momento.
E pode ser a tal espera,
a curva que o tempo faz,
o lugar, talvez a hora,
onde tudo se desfaz.
Os números às vezes incomodam. As datas são recordadas, somam-se os algarismos, procuram-se capicuas, este ou aquele dão sorte, há simbolismos e também coincidências. Mas antes de nos sentirmos perturbados, devemos pensar que as datas são subjetivas, a matemática tem muitos raciocínios lógicos e os números não são usados de igual forma por toda a humanidade. E tudo isto porque esta data me colocou no ano 2000, quando ambos fomos gozar as últimas férias, esperançados no regresso a casa. E voltei só. Foi um vazio do tamanho do mundo. E continua, agora vivido com a sabedoria que a velhice ensina. A viver com o que sobrou de todos e de tanto que se teve, sem se saber quão ricos éramos, quando o fomos.
Entre o que é o destino e o que é o livre arbítrio há um espaço de equilibrio, visto um e outro serem forças contrárias, que regem as nossas vidas e que se complementam. Do destino não podemos fugir, iremos sempre ser objeto de acontecimentos que não esperamos, mas que teremos de enfrentar. Quanto ao livre arbítrio, são as nossas escolhas que ditarão as nossas vidas. Tudo junto é um fardo, muitas vezes dificil de transportar e alterar. É nessas ocasiões que é possivel encontrar o tal espaço, a que eu chamo "o meu oásis". Neste caminho interno, é pela humildade que O encontramos. É de Paz e de Luz. Pegamos na Esperança e apertamo-la contra o coração e talvez a alegria por ali ter chegado, ajude a absorver a Energia para continuar.