A carne dilacerada, no limite da dor humana. Gotejando. Água, sangue e ar competindo por espaços desconhecidos no corpo derrotado. O sentido da audição resgistando todos os sons, numa ânsia de manter o controlo sobre os acontecimentos mais prementes. Vozes suaves entre palavras de urgência e simplicidade, como " não chegamos a tempo". Sirenes. Alguém que empurra, a correr, a cadeira até à Visão que ainda perdura. Quatro figuras altas, brancas, de braços cruzados, recortadas em fundo negro. Como uma fronteira. A voz forte ditando: abrir artéria. A certeza de que não era a Hora.
Mas o bálsamo foi, no dia seguinte, ver o pranto nos olhos do Amigo, a saudar o meu regresso.
Calço chinelos dourados e vou, sem sombra e sem vento, buscar meu raio de sol. Pode estar no orvalho ou na areia do deserto. Ou talvez aqui tão perto, que seja a poesia a enobrecer a dor e o encanto da Vida em cada dia.