Este recomeço está a ser dificil. Cada passo deve ser novo, mas é trémulo de velho. São muitas as mãos que amparam e doces as palavras que estimulam. O coração está a usar novas estradas e por isso altera o ritmo de quando em quando, o que assusta um pouco. Mas há cantos de pássaros no meu jardim, há livros que ajudam as horas e sobretudo há uma grande gratidão pelo bem que estou recebendo. A alma humana é cheia de graças. E estas são dádivas, vindas de mundos espirituais que não entendemos ainda. Mas sentir a sua existência é uma Graça também. Mesmo sofrendo dores, mêdos e anseios de vária ordem, vale a pena recomeçar a viver.
O tamanho de cada dedo parece ter deminuido. Noto que perdeu alguma força e se tenta apontar o rosto, segurar o pente, compor a roupa, enfim, ser útil ao corpo, é fragil e pouco activo. As anestesias são muito traiçoeiras e por aqui me fico sobre as pequenas mãos que tenho de utilizar. De mim teria muito que analisar, depois da violência a que fui sugeita. As queixas não ajudam mas elas são tão reais que não posso tirá-las do meu caminho. É como andar sobre pedras soltas, num constante equilibrio de quem aprende a andar. Correm-me as lágrimas quando devia sentir alegria por estar viva. Houve emoções que não analisei nem sei definir. O meu coração sofreu a dor a agora quer voltar a ser um músculo apenas. De tudo isto resumo o pouco que sou por estar só e velha nesta longa vida. Triteza...