De tudo que se vai imaginando, até a saudade é possivel. Saudades do mundo, mesmo de locais onde nunca se esteve e onde nunca se irá, como se por lá algo de nós existisse ou tivesse existido. É assim a visão do poeta ao compor a vida maior que o mundo. Como um Lar, cujas portas se abrem e fecham livremente, uma base de onde partir e aonde regressar, para ir para a estrada outra vez em viagem, buscando tudo na beleza das ideias que as palavras aglutinam. Vivemos num século fantástico. Terras espalhadas por todo o planeta tornaram-se nossas vizinhas. A China está do outro lado da rua, o Médio Oriente na porta ao lado. Os jovens de mochila estão espalhados pelos caminhos do conhecimento, para aprender novas/velhas formas de viver em comunidade. Serão a benção do futuro. Eu apenas imagino e vivo a saudade do que há-de vir. Cheguei tarde? Não, era esta a minha hora, a de saber como viver a saudade do poeta.
O pensar enreda-me em coisas novas, mas sempre as velhas estão presentes. Assim, o raciocínio se perde ante a ânsia de futuro e o peso do passado. A mente disfruta de ideias de outros em mim, plantadas pelo tempo a que a memória serve de chão. A este chão eu chamo de conhecimento. E se há dias em que o pouco tudo contém , outros há que vivo no vazio, pois tudo se esvai sem perceber o porquê. É como se o ontem e o minuto seguinte fôssem um novelo sem pontas. A relatividade em que nos movimentamos não permite expor ideias sem representá-las, o que dificulta a sua exposição. Este dia com nuvens densas, rouba-nos o sol. Nada brilha, nada é real.
Há mais de sessenta anos, num belo salão, fizemos o nosso juramento para a vida e que ainda hoje nos sustenta. Juramos fazer respeitar a Constituição de 1933 e também o repúdio ao Comunismo. E assim começámos a trabalhar e a ganhar o pão de cada dia. Vivemos em contacto, cada uma no seu caminho, em projetos muito diferentes. Vieram as dificuldades, as dores, as ausências e os cabelos brancos a brilharem nos sorrisos. E o tempo, o tempo de todos nós, trazendo e levando o bem e o mal de todos os dias. Amigas, gastamos os nossos encontros à mesa do restaurante, onde rimos e quase choramos, ao recordar tantas fases das voltas que a Vida nos fez dar. Agora, olhamos as diferenças em como viver, em como falar e até em como amar, que nos distingue de quem vai passando. E rimos e estamos presentes, como em Fevereiro de 1953, assinando o pacto da Amizade.
A palavra "blog" é a contração das palavras inglesas "web" e "log", e que foi adotada por todos os utilizadores on-line, a ponto de serem criadas mais palavras com outros significados. Com estas pesquisas aprendo o porquê das coisas, pois o uso de toda esta mecânica não me satisfaz enquanto não conheço os princíncios que a regem. O desejo de aprender ou talvez só a curiosidade, vão-me mantendo desperta para a vida, que todos os dias dá motivos para aumentar os conhecimentos. Assim, a memória é ativada e o raciocínio também. Além de que saber me faz feliz. Não sei porque sinto tudo isto, mas aceito esta forma de ser, agradecendo tudo isto como uma Graça. E por hoje fico por aqui, pois o sono não ajuda o blog.
A cor, o brilho que se desprende de cada planta, o azul de um céu sem nuvens, o calor que nos envolve e ao longe o som do mar. Este som é o que resta na memória de tudo que vivi nele e com ele. Este ser vivo, talvez consciente de si, quem sabe, possuiu-me como um amante amoroso, mesmo quando me iludiu nesse abraço de ondas assassinas que, por pouco, não levou aquela juventude aventureira que foi a minha. Nesta amálgama de lembranças que agora vivo, o mar tem um valor importante por tudo que senti. Mesmo em dias de trabalho, esgotada também pelas preocupações da vida privada, procurava o reforço de energias perto da força e da beleza ilimitadas do oceano. Os caminhos de regresso, a pé, eram feitos de alegria, como se tivesse encontrado o meu el-dorado para muitos dias. Viver é reviver estas grandes e pequenas ocasiões, que nos enchem de sensações agradáveis, mesmo quando o tempo foi no tempo esquecido.
Gosto de lembrar pessoas que fui perdendo e que julgava serem companheiras de viagem. Muito me abraçaram e me protegeram, ao que eu retribui. Ou seriam elas que retribuiram com os abraços e uma proteção aparente? Como prever tantas mudanças em tão pouco tempo? Perante uma situação inesperada e dolorosa, eu não cumpri com todas as exigências que a lei obriga. Por impossibilidade e por pensar que dominavam os afectos. Enganei-me. A estes amigos, juntam-se outros e outros que não precisando hoje, são nova gente de fraca memória. Mas, embora alguma dor a que damos o nome de saudade, não desisto de novos que vão surgindo neste fim de caminho. Estes amigos também abraçam e protegem, com a liberdade de quem aqui vive. Por hoje, apenas isto: o orgulho é dificil de gerir e transforma quem o vivência em desertor.
Algures, num lugar da Terra, sentado, solitário numa noite de outono. Os pássaros esvoaçam na falésia, o sol poente desapareceu numa nuvem rosa. Entristecem-me os cabelos brancos, sentado solitário neste espaço vazio.No monte, a fruta cai com a chuva, aqui os insetos zumbem em redor da candeia. Não se podem mudar os cabelos brancos, ninguém sabe como trazer de volta a juventude. Para elimlnar doenças, a velhice, estudar o não ser. Entrar em Casa, deixar os pertences fora. As mãos foram criadas para afagar, nelas nada cabe. A Natureza não pode ser solidão. Deito-me nela e durmo em Paz.