Sinto sobre os ombros o peso do Ser, aquêle Ser a que eu pertenço, por mim construído ao longo de muitas vidas e projetos. Pode ser uma rosa, pode ser um par de asas. Tudo que eu imagino alí permanece e quando eu sou apenas eu, nos meus afetos e desejos terrenos, dele recebo mensagens com interpretações que vou tirando de tudo que me rodeia. É o "fio de prata" que leva e trás o sonho, que nos deixa flutuar e permanecer. Quando durmo, estou nele e completa. O seu peso dobra-me, de tanto que sei sem saber o que quero. O pensamento quer pensar, mas o raciocínio não está preparado para as abstrações da alma. Apenas o coração poderá intuir os dialogos entre o que está e o imaginado. Entre o que inventa o conceito e quem o alimenta. Entre a vida e Vida.
De tanto querer saber de mim, porque penso o que penso, na busca de algo que nem sei se existe, pressinto que deixo passar o tempo e nada de útil me é sugerido. E pergunto se o meu olhar é o necessário para a vida que escolhi viver. Muitas dúvidas se conjungam e por isso treino observar o mundo exterior a par com o meu interior, tendo a memória como cofre precioso. Assim, tento agarrar a realidade com palavras, para no fim descobrir que o mistério destroi o discurso e que as suas sílabas são engolidas pelo silêncio.