Escrever sobre Irmã é dificil. Trás memórias de doenças mortais e sofrimentos que me abriram horizontes espirituais e se colaram a mim para sempre. Por vezes choro, abrindo o coração à dor e à saudade. Confronto-me agora com a demência, não ainda total, mas cuja presença é extremamente agressiva. E como a relação comigo foi dificil, mesmo na doença domina a vontade em falar sobre assuntos que me mostrem a raiva e o ciúme que carrega na alma. A caricia é recebida com indiferência, embora eu sinta como é benéfica a mão que afaga. Doi muito. Não sei como aliviar. Talvez estas palavras escritas me ajudem a ultrapassar o sofrimento.
Estou mais disinibida quanto ao pc e por isso perco horas a tentar transferir para pastas textos que vou escrevendo ou desenhos feitos com o rato. Não acerto a maior parte, mas se acerto fico orgulhosa de mim. Vejo poucas pessoas da minha idade a brincarem com este "bichinho" e isso diverte-me imenso. Aprendi a fazer o meu livro "on line" com muitas ajudas e ensinamentos. Transferir o que já estava escrito para um programa que permite a confeção e edição de um livro, à minha escolha, onde inseri fotos e desenhos, foi muito agradável. Agora penso repetir a dose com os poemas de uma vida. È um sonho possivel de realizar se tiver ainda algum tempo. Coragem não falta para trabalhar e iniciar a obra. É ridículo estar a escrever no blog sobre projetos tão caseiros que só a mim dizem respeito. Mas, quem sabe, talvez suscitem bons votos de quem lê e me quer bem.
A palavra aconchego lembra o abraço de mãe. O porquê desta ligaçâo faz pensar em emoçôes que nem sempre estão definidas dentro de nós. Sentimentos que queremos olvidar mas regressam, sem que se entenda a sua presença. Aconchego já não é ouvido há muito tempo. Como as pessoas, as palavras vão indo para outro mundo e deixam de ser, por esquecimento. Mas aconchego é calor, é manta de inverno, é casa, é lar. Os novos escribas não a sentem, não a usam, é antiga, passou de moda. Eu sinto-a com lágrimas nos olhos. Nesta vida comprida é natural que haja horas em que as palavras voltem.