mas vou tentar escrever sobre um assunto nobre. Assim, pensando em pessoas que são todos e eu, algures neste caminho sinuoso, apetece-me comentar uma notícia televisiva. Ouvi e vi uma família de cinco pessoas formada pelos pais e três filhos, sendo dois ainda menores, que enfrentam uma situação terrivel de doença: quatro deles sofrem de cancro. Pâncreas o pai, estômago a mãe, leucemia o filho mais velho, com apenas quinze anos. Não há apoios, não pode haver trabalho porque há doença. Que fazer perante tanta dor? A reportagem tem por fim acordar os corações adormecidos e implorar a dádiva de Amor que é urgente. Quem tem elevados depósitos bancários pode não ter ouvido, mas os Hospitais, onde o drama se desenrola, nâo podem chamar a Segurança Social ou as Misericódias ou sei lá o quê? E por aqui me fico.
As cores e as luzes encheram o jardim. O calor da época trouxe as sensações boas das festas populares quando íamos todos passear, para minha alegria e da minha irmã. E perto da nossa casa instalava-se uma espécie de feira, com farturas e carrinhos que subiam uma rampa, o que dava um delírio fantástico na descida. Ontem lembrei tudo. O jantar, o movimento, a música e o motivo porque estávamos todos ali, decrépitos alguns, outros tentando esquecer as limitações a que estão sugeitos. Felizmente que há muita gente jovem e sem medo de enfrentar as tarefas dificeis a que se propõem. É com muita gratidão que vivo tudo e tento encontrar a alegria que sempre me acompanhou na vida. E digo encontrar porque nem sempre sei onde está. Mas tristeza "não tem fim, felicidade sim". E para que tudo fosse perfeito "eu vi o menino" dormindo, o Rodrigo da mensagem que eu recebi do meu céu.
Já fui outra. Tirei da Vida imagens lindas que hoje me suportam. Mas não a ponto de me suavisarem os trilhos que agora são as antigas estradas. Com orgulho legítimo vou recordando a vontade, a força para fazer, o gosto de ser eu, de acordo com o mais íntimo que há em nós. Muitos sonhos, muitas realizações. E por vezes só contra o mundo. Perdi muito mas perdi sabendo. As consequências naturais iam surgindo, enquanto o benefício da aprendisagem me dava garra para continuar. Por isso gosto de fazer estas comparações, ontem, muitos ontem e hoje, apenas hoje. Este hoje em que peço auxílio, um braço jovem como amparo, uma presença carinhosa como de alguém que nos é próximo. E que ao meu agradecimento apenas responde: estou aqui para isso, para lhe dar conforto e paz. Esta são as palavras que encontrei para definir o mundo em que vivo.
Sempre me conheceste. Não vais achar estranho eu escrever-te mais uma vez. Se quiseres publicar as minhas cartas, podes fazê-lo, embora haja segredos entre nós. Esses, evidentemente, serão sempre só nossos. E como Tu sabes quais são, estou tranquíla. Agora que estou vivendo uma vida mais só, precisei de Ti. É por isso que devo escrever-Te, não para pedir ou usar amabilidades mas para agradecer. Sabes, desde a nossa última conversa, como foram díficeis estes meses. Deste-me as ajudas pedidas, cada uma a seu tempo, sugerindo os actos necessários ao fim a atingir. As consequências foram aparecendo e neste momento em que escrevo, sinto-me liberta. Já estou responsável só por mim, aguardando, como sempre a Tua resposta a todas as minhas exitações. Deste-me novas tarefas, estou cumprido. Também me deste forças e alegrias para ir gozando a Primavera. Farei, em teu Nome, se o meu coração entender a mensagem. Áté outra carta, não sei quando. Está um dia lindo e deves saber como estou serena.