O que escrevo não tem título. O prazer de juntar palavras com ideias dentro e delas tirar um conjunto de símbolos que me identifiquem em linguagem, é de tal forma palpável que não sei como classifica-lo. Gostaria de ser mais explícita quando as ideias são mais originais, mas como vou escrevendo sem projeto, perco-me por vezes. Até porque sei que tudo já foi dito neste idioma ou noutro, usado hoje ou não. Estes pensamentos nascem com as palavras certas para serem entendidos. É como se fosse um ditado feito dentro de mim. Parece uma sensação tola mas é o que sinto muitas vezes. Imagino como esta confissão será ridícula para muita gente. Paciência, nada a fazer. Também sinto alguma companhia, nestes dias sem gente perto. "A cada sombra os sentidos reagem, como se fosse o anjo que o deus me segredou" Desta frase de um poema de David Mourão Ferreira roubo um pouco do que vivencío.
A vida não tem medida. Hoje é porque sim, logo é porque não. Cada um vivendo à deriva de outros, sem afirmar a sua existência ou ainda peor, sem nisso pensar. Só se ouve falar em direitos, num grito colétivo com eco pelo mundo. E a Vida vai, em ondas de choque, correndo os continentes, numa luta sem tréguas consigo mesma. A morte eleva-se por vezes e todos choram. E o direito à vida, esse sim real, por não ter principio nem fim, é o mais atingido por interesses políticos, egoistas e religiosos. Toda a humanidade teme a grande mudança, mas ela está aí presente e total. O conhecimento já tem iniciadores nas crianças índigo que estam a crescer com a tecnologia na ponta dos dedos. Trazem novos futuros e novas projeções. Não vale a pena lamentar o que foi e por que foi assim. Não há medida para a vida.
Porque procuramos muito nos outros e pouco em nós? Porque nos escondemos de nós próprios, temendo encontrar em nós o que tanto criticamos nos outros. Estes outros são a nossaa família, os amigos e até os desconhecidos com os quais contactamos acidentalmente. Cada ser humano tem dentro de si tudo que o faz viver. Cada pensamento solta a energia necessária para pensar, tal como eu estou a fazer agora para realizar um texto que tenha assunto, lógica e conclusão. Esta energia não é só minha, é universal e a usá-la está toda a humanidade. Se acreditarmos que estamos interiormente ligados à mesma raíz, não há como definir separadores que sustentem o EU e o resto que olhamos todos os dias. Por isso se fala que somos todos UM, que somos Irmãos e por aí em diante. E se acreditarmos ainda que a morte é apenas uma mudança de plano para que se cumpram os mistérios da nossa existência, podemos então pensar e atuar cada vez mais no porquê de estarmos aqui e na validade das ações, em prol de cada um.
Estes últimos dias foram muito agradáveis porque houve amigos e familiares que procuraram a minha companhia, acrescida "daquele abraço" quente que nos vitaliza. Uma prima que já não é prima e um primo que, filho de um primo e neto de alguém que foi realmento primo. O passado casado com o presente nas relações feitas de amizade que nos unem e dão alegria à nossa vivência. E hoje, em que juntei a sabedoria de um médico amigo ao meu coração remendado. Tudo perfeito, pequenos arranjos, matar as saudades e o dia lindo. A luz sobre o mar azul e o amparo de quem me transporta com amor e paciência. Alguém olha por mim, mas quem?
Dias difíceis. Guardar e esquecer. É tudo necessário na medida certa. Há lugar para tudo que temos de viver, sofrendo e temperando com o bem do que fica guardado. Assim se passam os dias, fazendo do tempo o amparo de que precisamos. A porta ao meu lado já não se abre para mim como era seu hábito, embora eu sinta que nada é em vão. A Vida é um processo, sempre mudando sempre se reconstruindo. Nós queremos o lugar certo e o melhor se possivel. Mas viver não é isso. É aceitar as curvas, as lombas, as marés que nos limitam mas também nos transcendem. É o Processo até à repetição de cada vida, sem fim.