Caminhemos juntos pela areia molhada.
Somos poucos e jovens. Não falamos nada.
Caminhemos juntos pela berma da estrada.
Agora somos muitos. Vamos de mão dada.
Caminhemos juntos pela Terra que chora.
Já somos milhões abraçados agora.
Caminhemos juntos unidos, humanos.
Às voltas do medo e do que choramos.
Caminhemos juntos para outro lugar.
Ainda não sabemos como o encontrar.
Caminhemos juntos, milhares e milhares.
Apenas por Amor. Apenas para amares.
Cheia de ideias para pintar. Já peguei nos materiais, sujei uma tela e exitei, olhando o céu. Isto quer dizer que o bloqueio voltou. Fantasma que me prende as mãos e tira a vontade de continuar .É caso para análise. Tenho medo das tintas, dos desenhos, das cores. Tenho medo de ter perdido a arte de compôr. Sei que devo arriscar e permitir-me o erro e o engano. Não quero desitir de um prazer. Amanhã volto para dizer se estou ou não "em picos". Conceitos antigos, estes.
Deixei de fazer os oleos de forma aceitavel socialmente. Começo colando folhas de plantas, desenho e pinto por cima, obtendo uma tela promíscua que seja uma manifestação natural com bocados de loucura, mesmo doida. É terrivel uma folha branca seja do que for, perante o desejo de colocar nela um assomo de arte. Um simples risco pode desiludir ou trazer ânimo. A melhor forma de contentar o ânseio de produzir é não imaginar uma conclusão. Hoje faço assim, amanhã apetecerá outra coisa. Pode ser mais trabalhado ou menos, com cor ou sem cor, mas sempre, sempre com a alegria de fazer. Tal como uma criança, que suja as mãos e a roupa ao brincar com as tintas, pintando o livro com desenhos a lápis.
Hó Deus, não sei martelar em rimas Tua glória.
Com lábios simples digo minha prece.
Mas se não queres, não escutes as minhas palavras.
Sei que a relva é verde, o mar é todas as cores - e não compreendo.
Para quem e por que é assim.
Sinto que amo mas não encontro o alvo desse Amor
a não seres Tu. Oiço que sopra o vento, o que me deixa mais só.
Mas se não te agradam não atendas as minhas palavras.
Queria só, de modo simples, dizer-Te agora que também
eu existo e existo aqui e Te admiro, mas não Te compreendo.
Porque Tu não precisas da nossa admiração nem das nossas preces,
nem das nossas súplicas. Porque não sabemos mais do que implorar,
Hó Deus, nesta estranha prece, eu quero agradecer o Teu domínio,
infinito e poderoso e pedir-Te:
Oferece-me Senhor, um pouco de mim mesmo.
Mas, se não queres, não escutes as minhas palavras.
Às vezes dou por mim a perguntar para que servem tantas leituras e tantas escritas se tudo é esquecido por todos que partilham os mesmos planos de vida. Ler reportagens, entrevistas, notícias repetidas não são guardados na nossa memória de forma objetiva. Guardamos uma lembrança dos assuntos e por vezes nem isso. No entanto, tiramos prazer de tudo isto e julgamos que aprendemos muito. Eu já não tiro o conhecimento que gostaria, porque a memória não é o que era. E também entendo que a pressão de tantas notícias sobre o nosso cérebro é demasiada. Assim ele defende-se apagando o que está a mais. Estou a necessitar da pintura e do desenho a sério para me descontrair e sentir-me feliz. Tentar de novo, tentar e fazer.
Há o Ser que me sustenta. Me dá a argúcia na palavra, o poder na ação, a vontade de fazer. O amor que pode ser apenas alegria de continuar aqui. Sem esquecer os outros que amei e amo. Foram viajar para lugares que desconheço e ainda não voltaram. Como a Paula, que faria hoje 86 anos e não aguentou a dor que o destino lhe guardou para este dia. Pouco mais a vi até ao adeus que não lhe dei. Continuo mentalmente com esta prece dirigida a quaquer céu que aceite este agradecimento pela memória que se conjuga com a esperança de ainda poder entender o que tanto procuro desde jovem: entender a Vida.
A boca gulosa suga o fruto.
Tenho vinte anos na lembrança.
É como sentir ainda ser criança.
É de novo a graça, amar tudo.
É sorver a noite até ao dia
e beijar o vento sem ter beijos.
É como viver no mar sem ter desejos
de entender o céu onde vivia.
É tudo um sonho mal interpretado.
E se foi sonho, melhor não ter sonhado.
Entre as imagens que se vão criando, algumas ficam como reais presenças, movimentando-se cosoante o espirito que domina cada dia. Assim apareceram os três cavalos que significam os corpos que fazem parte do Eu humano. O cavalo branco é o corpo emocional, o cavalo castanho é o corpo mental e o cavalo preto é o corpo físico. Todos eles deveriam ter as rédeas com igual tamanho para que um ou dois não anulem os outros. As rédeas são dominadas pelo Eu, ou Vontade/Poder ou Poder/Vontade. Estas definições podem abranger todas as crenças e todos os ateímos. Haja interpretações para as palavras e Vontade e Poder para segurar cada cavalo. A imagem é linda, pensando em como é dificil conter uma emoção para torna-la útil, ou uma decisão ou um vício ou um prazer exagerado. Este é o título que deixa cheia a análise à vida que construimos.