Os dias de chuva são sempre tristes, mesmo quando ela é necessária. Sem o sol a que estamos habituados parece que o dia é uma noite clara, uma noite que leva a alma para além da alegria de viver. Enrolada nas indesições, fico parada a tentar encontrar-me neste poço sem fundo que todos nós somos. Desde a leitura, que neste livro de Zimler é uma benção, até escrever ou desenhar, tudo me parece fraco e pouco apelativo. Cadé o sol? Sem ele, eu não sou eu, pelo menos hoje. Neste cinzento das nuvens só encontro uma barreira de frio, de humidade e de desconforto. Que falta fazem os abraços quentes daqueles que estão longe ou perto, não sei, daqueles que amo. È inverno, benvinda a chuva e todo o bem que traz consigo.
Há acontecimentos que vamos querendo apagar da memória sem sucesso. Gritam que estão ali e querem ser relembrados, impondo uma presença incomoda. Alguns são do passado, quase da infância. Trazem uma tristeza enorme colada a si, parecem humanos carentes de amor e compaixão. Em lugar de tentar esquece-los, talvez trazê-los ao presente, ligando-os a outros que nos atormentam agora. Sendo de natureza identicos, quem sabe se não há ligação entre eles? Só os anos vividos podem dar esta visão que a experiência acumulada nos ensina. Para limparmos o nosso corpo emocional das teias negativas que nele se instalam, temos de o trazer à luz, ou seja à lembrança plena dos acontecimentos, sem os julgar compreendendo-os. E perceber que o que foi, foi mesmo assim, pois não podia ter sido de outra forma. Tudo é energia e na ocasião era aquela que viviamos. A de hoje é já outra, por isso aquelas atitudes ou factos nos parecem infelizes e tistes. É muito vulgar ouvir a frase: eu hoje nâo faria aquilo.
Um campo de alfazema, uma planicíe sem fim, de cor lilás ao sol da manhã. No meu sonho era o meu lugar. Então vi-Te, Yeshua. Não sei pronunciar o Teu nome antigo mas sei dizê-lo no meu coraçâo. Nunca escrevi tal palavra, agora copiada do texto de um escritor americano que vive em Portugal. E a memória trouxe-me o sonho da Tua primeira chamada. Enquanto eu dormia e morava no campo de alfazema, entraste no meu sono e lá implantaste o sonho que me levou a Ti. Ergueste a mão direita num movimento de chamar e eu não entedi porque estava no sono. Anos depois voltaste. Continuei na minha vidinha adormecida, apenas um pouco mais desperta. E não voltei a ver-te nem Te procurei. Yeshua, li-te onde não esperava e em segundos estavas de novo comigo. Agora abstração sem campo de alfazema. Tenho de pensar sobre sobre nós para Te entender em mim. Talvez eu ame o Amor e não saiba como fazê-lo viver entre nós.