Vem não sei de onde e porque vem ao entardecer. Claro que esta manifestação do nosso corpo emocional altera todo o corpo físico, tal como sentimos a dor, a pressão arterial alterada, etc, etc. Mas como controlar o que não se define? A vida está como há uma semana ou mais longe ainda. Mas o certo é que o medo vem com a ansiedade, medo de estar doente, de ir para o hospital e também de partir, porque não dize-lo. E aquela angustia cresce dentro de mim, enquanto estou a tentar não a viver, não a reconhecer. Haverá talvez uma causa e essa é o tempo que já vivi. Ou o que julgo viver, com atividade e alguma saúde. Estou a entrar num sistema de lamentos, em praça pública, que me desagrada e por isso vou terminar com pedido de desculpa pelo que escrevi.
A primavera que ontem entrou é a minha octagéssima sétima primavera. Nem sei se escrevi bem as palavras, pois não me lembro de as ter escrito antes. Nem podia. Só agora atingi este número e com muita alegria por viver uma nova primavera. E, sendo hoje o dia mundial da Poesia, mais razão tenho em sentir felicidade e gratidão pela vida que me é concedida. Escrever um poema ou uma prosa poética seria um dever de ofício. Mas não tenho nada em mente, sinto-me vazia e preocupada com acontecimentos que não são meus e por isso devo respeitar. Até breve.
O tricot não acabado, o livro não publicado, o quadro não começado, os projectos dentro do tempo, o trabalho dentro das horas, o meu pensar sobre as coisas que vejo e as que construo e não vejo, e o tempo que leva a vida e os dias que me consomem, como uma montanha que não sei subir mas quero subir. Tudo isto é confuso mas simples ao mesmo tempo. Basta fazer e não filosofar, simplesmente usar as horas e deixar o tempo correr. Velha sim, mas cheia de projectos, como se ainda tivesse espaço de manobra para encaixar os sonhos.
Cadeira de verga, repouso e conversa. A tarde é primaveril neste dia 8 de Março que, mundialmente, se catalogou como Dia da Mulher. Na troca de ideias, é evidente como muitas mulheres festejam este dia com satisfação. Para mim é um dia triste, porque não há o Dia do Homem? Porque o mundo masculino faz o favor de votar para que exista um novo patamar que eleija aquelas que o pariram, alimentam e amam, até ao seu nível, até ser igual na diferença natural que nos é dada pela Vida. Trabalhei com um homem que afirmava que o cérebro das mulheres pesava menos e por isso nunca poderiam ter as mesmas responsabilidades e profissões. Mais tarde foi meu subordinado e faleceu antes de ver mulheres nas Forças Armadas, o que seria a revolta total. Mas ficaram milhões por este Paìs fora a pensar igual. No casamento é a mulher que fica com o nome de outra família quando a lei já permite que o homem use o nome de familia da sua noiva. Somos nós, mulheres e não eles, que devem exigir o respeito e a valorização que a humanidade necessita para sermos todos humanos.
É como estar à beira de um penhasco,
com o vento sul trazendo frio e chuva.
Tudo é violento. O mar uivando em baixo,
o rebentar das ondas contra o corpo
e o corpo a tombar como quem foge.
É como estar à porta sem entrar,
ignorando que passo será dado.
Não enxerga ainda o outro lado,
mas sente o vento à beira do penhasco
e a alma pedindo apoio ao deus do mar.
Venho comentar alguma ideia ou apenas encher de palavras a página branca? Ou vou deixar aqui a imagem da minha vida medíocre, com laivos de algo maior que penso que sou? È mesmo assim, supor que algo nos engrandece e estimula uns dias e outros dias deixa-nos em ondas de tristeza, com a certeza de ser inferior a tudo quanto existe. Hoje serei a pessoa de ontem? Não sei de mim.