As asas que batem ao meu lado
as vozes sem som dentro do espanto
os ventos do destino como vagas
as vagas do destino como vento
a dor de sofrer o sofrimento
o riso que vem de vez e tanto
se faz sonho como sonhado
Ai as sombras em redor
tudo que sinto em mim
sem saber se vim
para a vida entender
melhor
ou apenas viver.
Sei que é ridículo escrever aqui sobre as minhas pequenas/grandes atitudes do dia a dia, embora sejam elas que propocionam horas mais ou menos felizes. Dentro das pequenas atitudes, vivi uma que me encheu de orgulho, pois já pensava ter a minha independência deminuida. Levaram-me de carro até o lugar escolhido e aí procurei e trouxe o que precisava. Andei um bocado até encontrar uma esplanada onde bebi um café. Depois fui a mais duas lojas, muito perto, onde fiz compras. Aguardei a hora de voltar de carro e senti-me mesmo feliz. Na próxima saída aproveito para almoçar sózinha e voltarei de táxi. Cansei-me sim, mas foi bom saber que posso andar só, sem pensar no equilibrio, nas pedras da rua, etc,etc. Os limites são cada dia mais estreitos, há que aproveitar o muito que ainda tenho.
Quem sabe serei nuvem? Ou perfume de rosa? Ou o que seja a diluir-se no futuro que o universo tem para mim. Hoje, o que sou? Ar, água, terra e destino ainda a decorrer, numa mente ativa, em esforço perante as inventivas do tempo. Há preces em meu redor, preces sem palavras, preces sem sons.. Poemas que eu vou criando a viverem dentro do meu mundo, junto com todas as pessoas que lá vivem, umas presentes aqui, outras que partiram a seu tempo para serem nuvens dentro do meu peito. Nuvens que são gente, com nomes e saudades e dor.
O trabalho a que todos se entregam para alegrar pessoas velhas e doentes, é simplesmente notável. Com alegria anuncia-se o acontecimento e com a mesma alegria se enfeitam espaços, se mudam mobilias, se fazem bebidas, se escolhe a música. Uma ou duas horas para juntar as pessoas, na tentativa de lhes dar mais vida no esquecimento de cada dor ou tristeza. Por tudo bem hajam. Embora eu seja uma ausente por feitio, estou presente na festa, seja lá o que ela for. E analiso tudo com o meu olhar experiente do que se aprende numa vida longa. Por isso aprecio o esforço e a dedicação de todos para nos fazerem felizes. Mais uma vez, obrigado.
Ao terminar a leitura de um livro de José Agualusa, liguei-me. por sugestão talvez, a acontecimentos passados e a outros atuais, que pareceram cenas escritas por mim num livro feito do tempo em que os vivi. As chaves da primeira casa, foram-me entregues por uma velha Senhora, proprietária e digna da letra maíuscula na palavra em que a defino .Cinquenta anos depois devolvi, pelo correio as mesmas chaves a gente desconhecida, por não haver já quem habitasse a casa. A dor foi enorme mas abri aquela porta e também a fechei. A outra casa foi um sonho de liberdade, onde realizei tudo que me foi possivel. E também fui eu que abri e fechei a porta, quarenta anos depois. Quanto de nós fica naqueles espaços ... Apenas paredes, janelas como olhos vazios a olhar as ruas. Hábitos, vozes, amores, ilusões. Tudo conjugado em dramas pessoais com horas de verdadeira felicidade Para contar e descrever cada casa terei de escrever um livro, um dia.