Fim de um dia muito quente. Dificil respirar. Recuperar o ritmo cardíaco e confiar na noite. Chamas sobre tudo que arde, vento rodopiando ao capricho de uma natureza sem piedade. Emocionalmente dificil ouvir e ver o que a TV transmite. Portugal de rastos. Como obter o oxigénio necessário a tantos corpos? Quantas décadas para se repor o que se perdeu? E os riscos que se correm para salvar vidas, animais e bens? As perguntas não teem fim e a dor também não. Minha amada terra, quem dera entender os desígnios do destino de todos e de cada um, embora saiba que sou apenas uma formiga impotente neste profundo mistério.
Apetece um poema, talvez com gosto a mar
como se mar fosse uma palavra pequena,
ou com gosto a flor ou com gosto a eu,
um poema que me alegrasse e me levasse
a entrar em Casa caminho do céu,
um céu talvez inexistente,
onde a gente nadasse como no mar
e ali respirasse a beleza de viver.
Quem dera um poema que tivesse
o som e a singeleza de uma voz
esquecida que o tempo levou de mim.
Por vezes o presente é ilusório. Parece já vivido, sem onde nem quando. O acordar, quando igual a todos, entra na continuidade, apenas diferenciado por algumas tarefas monótonas mas indispensáveis. Assim, o tempo vai engolindo os projetos e a esperança de vida. Também a vida engole o tempo num sorvedouro sem fim e sem princípio. E só tomamos consciência desta ilusão quando estamos de volta ao novo começo. Meditar nele é benéfico. Ajustamo-nos à alma, engrandecendo a nova missão, se para ela tivermos preparados. O passado poderá ter sido justo e benéfico, mas a tal ilusão vivida altera a definição de futuro. Aceitar a ignorância em que vivemos é parte da pacificação que ambicionamos. Nesta filosofia de estudo diário vou tentando conhecer-me.