Uma tarde com algum calor e céu cinzento. O conforto a fazer do dia um agradecimento total. O que sou hoje vem do tempo em eu comecei a acreditar numa vida futura e para ela me destinei sem dúvidas. Abri ainda mais todos . os sentidos para nao me agarrar a nada exceto as pessoas, com amizade e misericórdia. Nada é calculado pois a Vida é uma surpresa diária. Mas quando me vejo em tempos passados, enérgica, autoritária, decidida, vivendo do meu esforço e conseguindo ultrapassar as agruras do meu caminho, sinto saudades de mim. Hoje sou débil, pedindo carinho e compreensao para cada passo, embora ainda possa dominar a minha vida. Na escrita encontro a sabedoria que as palavras possuem. Oxalá possa entende-las melhor.
Recebi a tua carta. Vesti a blusa nova. Deste-me a tua mão e entrámos pela porta do domingo para viver a semana inteira. Não havia cidade nem caminhos, só domingo cheio de sombras em movimento. Para mim pensei - estarei a ser levada ou sou eu que contolo? - Não sabia nada de nada. Mas a tua mão e só ela me levava, domingo dentro, quente e feliz. A carta ia fechada e eu sabia como era bom quando a carta chegava. O coração ficava leve. Não era necessário ler uma carta de amor.Dentro do domingo onde me levas, tão devagar que me sinto sem espaço e sem tempo? Juntos somos nós de novo ou seremos outros julgamo-nos nós? Não respondes às dúvidas. Para quê estes pensamentos dispersos se nada é real nesta minha vida.
...atrás do vento
batem as asas dos pássaros
uma cortina de nevoeiro
tolda a visão dos deuses.
Para além do vento
espera-me a onda
que me irá afogar
no oceano do tempo.
Sem esperança,
não sei se isto é poema
ou se estou a sonhar.