Quando se escreviam cartas e a hora da chegada do carteiro era tida como sagrada, havia uma grande proximidade entre as pessoas. Porque escreviam com saudade e a resposta era sempre de gratidão e ou de necessidade. Hoje parece uma forma idiota de viver pois usam as mensagens e o correio eletrónico para dizer o mesmo que eu disse e escrevi. Não conhecem o sentimento contido ao rasgar o envelope nem o prazer em sentir o papel, com textura e perfume. E traziam flores secas e beijos e palavras doces que falavam de amor e de saudade. Era mais humano. mais ardente. Imagino como seria ler uma mensagem do tamanho das muitas que escrevi, apaixonada e saudosa do meu amor. Acho que a ferramenta agora usada pegaria fogo.
O meu possivel está cada dia mais limitado. Verificar isto é já uma dádiva ou pelo menos um pensamento analítico. Ainda estou apta para viver sem receios. O corpo cede enquanto a vontade for maior. Mas a força é preguiçosa e deixa de ser força para ser fraquesa. Sentada na cama a tentar ser eu, ou melhor, o eu que foi, e compreender que vestir e calçar sao dificuldades enormes, é uma perda de tempo. Por vezes quero chamar quem ajude, mas tudo me impede. Há pessoas a precisar de real ajuda e devo respeitar isso. Estas confissoes públicas já parecem os contos da caróchinha lidos ao contrário, "para velho ler". E como estou com sono parece melhor ficar por aqui.
Posso ser presunçosa, posso iludir-me e até posso ser uma idiota ao julgar que cheguei ao lugar de sonho. E o que é este lugar? Apenas uma consciência mais alargada, de forma a entender melhor o caminho e os seus entraves. Refiro-me ao caminho evolutivo que nós devemos percorrer em cada vida, com a plena certeza de que atingiremos a sua Origem, depois de milhares de experiências e muitos sofrimentos. Quanto a isto, já estou vivendo com alguma sabedoria, se se sofre ou nâo, como e porquê. Assim estou calma e convicta que posso dominar o medo, a ansiedade, etc, sentindo amor por tudo que me rodeia. Sei bem como este texto pode ser ridículo para aqueles que o lerem e que não sintam como eu o Poder do Universo. Há pensamentos que movimentam as nossas vidas e somos nós que os transformamos dentro de nós, fazendo da alegria uma meta da Alma.
Que bom, chegou o frio...! Enfiar camisolas de lã, velhos sapatos, beber chá quente. Não tenho interesse em roupa nova, mas sinto-me bem com algumas muito usadas e muito lavadas. E assim, de acordo com a natureza, finjo que gosto do inverno e vivê-lo já será bom. Acendem as luzes mais cedo. O céu azul e rosa é engolido pela noite. A noite traz medos, ansiedade, lembranças tristes. Como aquela em que te deixei ali. Também sei que nasci quase à meia noite, num inverno chuvoso, numa família triste. Todos julgaram que eu seria a sua primavera e com o que lhes dei, quem sabe se foi assim. Não gosto da noite porque aumenta as minhas limitações. Mesmo em nova, a noite era para dormir e pronto. E com a luz da manhã sou forte e abençoada. Espero amanhã acordar.
Agradeço teres respondido às minhas angústias através das palavras de uma amiga, que me ensinou como, com sabedoria, se atravessam espaços e tempos difíceis de gerir. Aprendi ainda que pensar e sofrer por outrém é errado. Fizeste que eu entendesse que o alvo da minha preocupação estava bem, serena e autêntica, segurando os acontecimentos com firmeza. Também entendi a Tua presença e por isso não sofro mais. Neste conforto que me ampara, sinto a segurança da fé que não é cega, mas inteligentemente escrutinada. A razão tem um papel átivo nestas afirmações. Mas a gratidão que sinto também é Caminho para irmos para Casa.