Em cada idioma há palavras mágicas pelo seu significado ou pelo som que produzem. Para mim há muitas no português que falo. E usu-as muito, mesmo sem dar conta. Pelo seu aconchego às derivações gregas ou latinas ou pelas letras que as compõem, essas palavras teem poesia e sons cativantes. Ler um soneto de Camões ou de Antero ou de Pessoa é trazer à alma uma paz e uma satisfação enorme. A poesia, em toda a sua beleza, palavras e ideias incluidas, é para mim o conforto na solidão e o comprido para dormir.
Observo com curiosidade as manifestações daqueles que estão perto e através da TV, os desconhecidos em movimento, em relação ao Natal. Para muitas pessoas esta festa é apenas dar e receber presentes, para algumas é ir ver o Pai ou a Mãe, outras vestir de vermelho e usar barbas brancas e para outras, a minoria, festejar o nascimento de Jesus, verdadeiro motivo para festejar o Natal. Vejo como está deturpado o sentido da festa, absorvido pela publicidade em todas as áreas, pelo pai natal que veio dos US e não da Lapónia, inventado que foi pela ganância de fazer dinheiro com todos os engôdos possiveis. É a loucura total. O Natal é, apenas, unir os homens e as mulheres, primeiro consigo mesmo, depois com a família humana, servindo com Amor o sentido da Vida. Para isto Ele nasceu. Não para gastar o pouco ou o muito que se tenha em gozar os bons hoteis, em prendas algumas inuteis. Natal é mais do que tudo isto. É pensar e orar pelo bem comum.
Gosto de analisar o que vou sentido perante os acontecimentos, que diariamente são publicados pelos jornalistas, tanto de jornais como nas diferentes televisões. Baseada numa das grandes afirmações filosóficas " em que eu só sei o que sou quando sei o que não sou", procuro e muito encontro de mim, usando a inteligência emocional para encontrar respostas. As notícias são hoje dadas em avalanche, de modo que a sua absorção é um exercício emotivo. Claro que nem tudo é digno de crédito. Por isso deve haver no olhar alguma sabedoria que evite o engano e a confusão inerente. Mas é bom para a mente e até para a alma usar estas energias que habitam em nós e nos fazem viver. Lamento apenas que tão poucas pessoas saibam usar esta alegria do Ser.
É óbvio que um coração que vive 88 anos sem falhas nem descanso, tem de estar cansado e saturado de tanta responsabilidade. Sua energia é de todos, é universal. Tem horas em que me alerta, pois bate tão lentamente como um relógio sem pilha. Eu paro também ouvindo-o. Depois alguém substitui a pilha e a energia volta à máquina que trabalha, trabalha. Isto é tão belo que não para de espantar, por mais cirurgias que se façam ou transplantes também. O médico que me operou disse-me que sempre se liga ao Invisível quando, com um coração " na mão" o vê pulsar autonomo. Os três corpos que se unem para sermos nós - o corpo físico, a mente e o espírito - são a trindade que nos mantem vivos e saudáveis. Sabendo isto é mais fácil cuidar de todos, com sabedoria, vontade e conhecimento.
Escrevi em criança poemas a flores, teatro para os avós, cartas ao meu Pai, ausente em trabalho. Recuperei tudo quando abri gavetas e procurei lembranças. Assim soube de mim, daquilo que já era. Contestatária, com novas formas de viver no horizonte. Olho o meu mundo e vejo quantas alterações apareceram na vida de muita gente, que as aceitou como necessárias numa sociedade fechada a tudo que era diferente. Desde proíbir livros para leitura e estudo, até impedir a abertura de uma conta bancária a uma mulher casada. Quanta injustiça, quanta revolta. Mas a Vida fez-se abrindo portas, mudando conceitos. Só na velhice podemos saber se tudo valeu a pena.