Se sinto frio tenho cobertas, se sinto dores tenho alivios, se necessito de algo tenho proteção. Porquê então a falta de mim, quando a carência é limitada ao querer viver? E viver é ser livre. É mobilidade, é decisão, é ter onde usar o corpo sem receios ou tropeços. Odeio pedir e a mão que estendo é à dependência que a velhice acarreta quer se queira ou não. Mas o amor à vida faz com que todos estes incomodos se tornem naturais e normais. Feitas as análises ao fim de cada dia, conclue-se que se passou bem, entre muitos como eu sou agora. Quero sempre estar grata pelo que me foi dado e pelo muito que foi adquirido. Mas não apago o peso do que recordo intensamente e não volto a sentir: o mar, o passear entre árvores e flores, solitária por entre a gente. Tudo foi maravilhoso quando errava sabendo o depois do erro, feliz por saber como é benéfica a mudança e a esperança de cada primavera. Morro de saudades de mim.
Fizeste anos e almoçámos juntas, como era costume. Eu a alegrar-te, tu triste com a vida. Eu a saborear a comida, tu a sentires o desagrado da confeção. Sempre no oposto, muitas vezes trocando palavras que magoavam as duas. Mas tudo isto foi a vida que escolhemos para viver, responsaveis que todos somos peloas escolhas que fazemos. Hoje sofro por não ter conseguido fazer-te feliz. Sempre soube que tudo está em nós, o bom e o mau caminho, diariamente escolhido pela forma como vemos os outros e nos comportamos. Fiz o melhor nas nossas vidas que nem sempre foi o melhor para ti. Partiste e eu fiquei para te lembrar com saudade. Talvez estejas melhor agora, decidindo ou não o teu destino .Pelo menos, o nosso almoço de ontem decorreu em paz.
Não tenho explicação para os sonhos que iluminam os meus sonos. Converso em idiomas estranhos, o mar é muito presente em cores maravilhosas, muitas sensações de liberdade e também de procura. Mas como não sei o que procuro, sofro a angústia de nada saber de mim. As cores dos sonhos são intensas bem como os ruídos. Vou esquecendo uns mais rápidos num sonho leve, mas guardo as cores do mar e algumas situações que vivi num mundo dificil de entender. Parece que estou fora deste tempo e talvez esteja, só não sei onde. Mas fico divertida quando acordo e relembro a minha doidice. Esta leva-me a desejar que a "janela iluminada" se abra para mim num futuro distante, embora eu saiba que o tempo só existe agora, aqui.
Oh.minha Mãe, doi-me a alma.
Oh.minha Mãe, tudo doi.
Mesmo nesta vida calma
eu choro aquela que foi.
Oh. minha Mãe, que saudade.
Oh.minha Mãe, o que sou?
Do que fiz, a utilidade,
do que fui, o que ficou?
Oh. Mãe, se a Casa volto,
esquecida onde vivi.
E se para ela torno,
Guarda-me dentro de ti.