Eu sou toda a gente. Como uma gota de chuva que se distinguiu da nuvem carregada de água, eu saí do lugar a que chamamos céu por termos esquecido o nome do berço natural. Agora apenas julgamos ter nascido do pai e da mãe, de quem herdamos o bom e o mau da nossa caminhada. Como a gota de chuva, eu e toda a humanidade, fazemos parte de um todo, que se individualizou para viver a experiência de ser em matéria e espírito. É feliz quem consegue reconhecer que somos afinal os "irmãos" que todas as religiões apregoam, alargando até ao cosmos pois tudo foi criado. Assim, para quê a maldade a outrem se outrem sou eu também? Pensemos e sintamos esta forma de vida.
Cada palavra é abençoada pela ideia que transmite. Dizem-me que há comoção quando é lida e quase vivida. Que mais pode pedir alguém quando de longe põe a palavra em sentimento para o mundo? Para mim são essas manifestações que me levam a escrever. Quando menos espero recebo um carinho de um velho amigo, um elogio desconhecido, uma mensagem de alguém muito perto, que eu pensava não ser leitor desta forma de comunicar. Por vezes apenas digo como sinto a distância das pessoas que deixei de ver, outras vezes falo do que tenho em Graça à Vida qua amo, vivendo em sabedoria que a experiência me deu. São assim escritos e sentidos estes pequenos textos que vou introduzindo no espaço infinito de cada coração.
É à noite que os olhos se dilatam. É à noite que o medo vem. Surgem dedos longos com unhas que seguram os sonhos que o medo traz. E a ansiedade renasce da noite anterior, viva e completa, reduzindo o coração a brinquedo de criança. Salta à garganta e pára no peito, dando efeito de berlinde, quando o medo era pequeno e não fazia ansiedade.. Era outro tempo, tudo era princípio. Na ansiedade vem a lembrança não desejada com aquilo que devo esquecer à mistura. E a noite parece maior, mesmo dormindo. Tudo é estranho no xadrez da vida se não se sabe jogar este jogo, que eu não aprendi. Sinto a noite com os olhos abertos e espero.
É comigo que me encontro quando as sensações são alteradas e eu deixo de me controlar. Ontem voltei a outro local, a outra vida, quando os Amigos eram próximos e com eles contava. A distância apagou-se em minutos quando o calor dos abraços me aqueceu e o espanto me invadiu. Passados vinte anos voltei a senti-los e a despojar-me daquele formulário dos parabens e boas festas. Falar alto, rir, enfim dizer que a amizade é que nos une a todos. Foi o calor em um dia frio, foi a laranja comida no pomar. Encontrei-me sim, comigo, quando o tempo me devolveu o que parecia ter tirado.