Para quem vier a esta página, copio esta maravilha. Que seja lida e apreciada na simplicidade da palavra e na profundidade da análise que cada pessoa pode fazer à sua vida:
A criança que fui chora na estrada.
Dexei-a ali quando vim ser quem sou:
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou. ( estrofe de soneto.1933)
Para mim é perfeito. Parece fácil de compor, mas em palavras simples como é dificil encontrar a poesia naquilo que se escreve.
A vida deu-me a função de avó sem o ser. Entre netos por lei e netos por afeição fui acolhendo de braços abertos alguns familiares e netos de gente amiga. Na confusão entre velhos e novos, fui fazendo o que devia para dar amor e ajuda. Todos pareciam ligados a mim, conforme a educação que lhes era dada. Passados anos entendi como eram fracos os laços que eu julgava para a vida. Os interesses suplantaram o amor que diziam existir. E quando deixou de ser útil o contacto, este acabou. Doeu, claro, doeu. Dez anos passaram sem que nada nos unisse, dexando para traz a mão quee lhes abriu caminho. Mas ainda há quem me chame avó, gente pequena e gente grande que pede sem pedir e necessita da avó para se manter vivendo. E ainda tenho a alegria de receber belas palavras de uma neta brasileira, inteligente e linda, com quem troco mails e fotos. Se nada é por acaso, qual será o motivo que nos une?
O inverno entrou na primavera enganando o tempo. E nós, humanos, exibindo o orgulho dos ignorantes, fazemos relatórios, conferências, concluindo estudos sobre as origens do acontecido. E o Tempo, com o tempo dentro, mostra o que é, o que somente É. E por isto ou aquilo, lá vamos nós inventar causas, não os efeitos que esses são evidentes. As tais causas são mutaveis se as definirmos bem. Se cada pessoa se entregasse ao amor verdadeiro, o que abrange toda a Vida em evolução, e soubesse de verdade, que é tudo, o mau e o bom, a saúde e a doença, de nossa realização, talvez essa comunhão de amor fosse a tempo de salvar a nossa "bela casa" girando no Espaço. A lista de hábitos a mudar não tem fim. Mas há flores nascendo em cada quintal. Tratemos delas. Não sei inventar mais.
BEAUDELAIRE:
Fleurs du mal
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Et portant vous serez semblable à cette ordure,
à cette horrible infecion, etoile de mes yeus,
soleil de ma nature, vous mon ange et ma passion.
Quando eu dizia poesia para amigos e família, ficava feliz pela memória que exibia. Treinava e continuo a fazê-lo, pois é com muito treino que se desenvolve o gosto por decorar belos poemas que muita gente escreve. Podem ser poetas desconhecidos mas como todos temos sentimentos, basta escolher as palavras certas com o coração para que se escreva um poema. Em todos os idiomas se descreve o amor, a desilusão, a esperança e tudo mais que a nossa alma contém. Tenho um livro de poesia chinesa, do ano mil a.c., traduzido por um macaense, de uma simplicidade e beleza, que me ajuda em dias de tristeza. Ainda não decorei algum poema porque gosto de ser surpreendida cada vez que lhe pego. O autor era um velho monge que vivia só num campo de abetos. Desenhava a natureza e escrevia sobre ela. Longe no tempo e no espaço, ainda há quem lhe agradeça.