Abeiro-me de alguém para dizer de mim mas só posso ouvir o que esse alguém diz de si. E ouço e ouço, muitas vezes sem entender o que se quer nesse monólogo. É por isso que o silêncio é tão importante no decorrer dos meus dias. Hoje fui procurar uma informação que uma pessoa tomou como sua e falou de si e do passado durante meia hora. Eramos seis e todas escutamos com atenção e educação. Depois despedi-me, logo que possivel. E penso. Não se trocam ideias nem conhecimento. Apenas se fala do passado no foro pessoal ou se rediculariza um momento de outrém socialmente. Por isso aqui estou no silêncio dos anjos que estão no meu "palácio".
há o desejo de continuar algo que não sei definir. Como se alguém me empurrasse ou me desse a mão para subir um caminho. Parece um vento suave a dobrar uma onda. Sensações estranhas que fazem de mim uma criatura cheia de mistérios, analiticamente falando. Tavez por sentirem esta estranheza, muitas pessoas me deixam só. Ou será o contrário neste ambiente limitado? Hoje sinto-me fora de tudo o que me rodeia. Queria ter energia para voltar a dominar o andar, para dar força ao coração cansado, enfim, para ser o que já fui. Há dias assim. O sol está encoberto e deminui a ideia do verão neste ano. Tanto escrevo e disparato nas palavras que não representam ideias. Fora de mim não sei o que dizer.
E assim começo a escrever. É uma manhã de verão com o céu nublado, muita humidade e vento fraco. De mim pouco posso dizer. Estou igual a ontem, ou seja, cansada e triste. Do que me rodeia sempre há algo a dizer. Gente em movimento, para que o dia corra com a normalidade prevista. Cuidar de todos, desde a higiene à alimentação. Há muito trabalho e muita responsabilidade. Organizar e promover contactos, remediar o que está menos bem, atender pedidos, cuidar dos mais frágeis. Tudo isto é motivo de observação para mim. E serve para aprender, pois a vida é uma eterna escola nos caminhos que vamos percorrendo. Assim queiramos entender o esforço de quem está trabalhando para nós, para nos dar uma velhice respeitada e feliz. Eu penso muito nos vários elos que nos unem, como humanidade e como socidade. São efeitos da profissão, feita de leis, pareceres e informações que fui desenvolvendo por muitos anos de trabalho.
Foi este conforto que eu senti no passeio muito bem organizado e que merece a palavra "obrigada". Todos os participantes ficaram felizes e a pedir mais. O almoço foi bom, o local também. Barcos, mar e sol, sem vento. Acresce a isto o amparo que é dado a quem precisa e a todos em geral. Este amparo é carinhoso, é amigo. Nestas idades avançadas, em que muitas passoas já estão sem familiares, cada abraço e cada carinho tem um valor enorme. Que mais dizer dos jovens que nos acompanharam e que tudo organizaram? Que são como netos cuidando dos seus avós.
O convite feito para nos juntarmos num passeio e almoço frente ao mar veio mesmo a calhar para mim. Preciso respirar a brisa marítima, sentindo o mar. É quase sagrada a felicidade que sinto quando ali estou, inteira e serena. Toda a natureza me empolga mas o mar dá-me vida sobre a vida. Não sei usar outras palavras para definir o sentimento de dependência que o mar me provoca. Penso que longe, em país sem fronteira marítima, eu não aguentava. Em tempos passados, quando regressava de viagens, até o rio Tejo me servia de alento. Oxalá o passeio me dê o mar que espero.