Começo a usar as palavras vazia de ideias. Ainda não sei se será poesia ou prosa poética ou simples conversa de porta de escada. Há muito que não tenho aquela palavra mágica que inicia um poema. O calor tem afetado o meu comportamento. Menos eu, menos nós. Aqui devo esclarecer que vivo enquadrada nas minhas escolhas como pessoa, por isso dialogo com todos os Seres que possuo, físico, mental e espiritual. E nem sempre o dialogo é bem sucedido. Na meditação pode surgir algo que abra um caminho para um pensamento livre. Hoje predomina a preguiça e como tal só existe o prazer de usar palavras para nada dizer.
O conceito de honra foi respeitado de tal forma que chegou a levar ao suicidio alguns portugueses ilustres acusados de desonestidade, por actos antisociais e danosos. Hoje encara-se com naturalidade as detenções de políticos, juizes, generais, etc por roubarem o País durante o exercicio dos respectivos cargos. O ser ladrão é só isso: é ladrão e por azar foi apanhado. Por vezes é desculpado por não haver provas suficientes. E quem não tem teto e quem não tem soupa? Pode roubar? NÃO. Apanha que é ladrão...Um nome honrado quanto vale? Estou triste mas feliz pelo que se descobre e se publica.
Como não posso saltar à corda no meio do quintal, imagino-me lá de corda na mão, levando o pensamento a fazer o alegre esforço guardado na memória. E fico feliz por viver de novo esse brincar. Assim danço, nado e amo tudo que vivi. Estou no banco do jardim, estamos os dois. Os ramos da árvore escondem os beijos e os risos de alegria. Tudo pode o pensamento. Essa energia poderosa que, em continuo movimento, faz de nós pequenos e grandes criadores de tudo que vivemos. Em cada hora podemos mudar o nosso bem ou o nosso mal, num faz de conta infantil com a experiência de velho. A isto chamo brincar, em dias solitários, como cartas de um baralho invisível caído do céu azul.
Tinha cinco anos quando aprendi a ler pela Cartilha Maternal. Minha Mãe me ensinou. Aos oito anos já declamava a personagem de Maria, de frei Luis de Sousa, encantada com a leitura do livro. Seguiram-se os estudos e os livros da época, filosofos, poetas, portugueses e franceses. Depois entrei nas várias religiões, tentando entender as diferenças. Permiti-me "estudar" os anti-Papas. O Budismo deu-me algo de pacificador, pela sua humanidade. Agora leio para saber mais, de tudo um pouco, desde IA, até novas dialéticas sobre as socidades que se alteram como ondas no mar alto. Tal como as ondas, elas vão sem destino certo, perdendo sem dar por isso, a sua sustentação; a ética. E com esta os valores que estão escritos em cada coração.
É como ter ideias que ninguém teve? Não. É sermos nós mesmo no silêncio da nossa mente e não dar a conhecer o que idealizou? Talvez. Todos queremos ser especiais mas especiais já nós somos. Cada humano é único, sem igual à face da terra, por isso tudo que produz é único também. Porque este anseio de aparecer e parecer diferente em tudo que vamos fazendo? Será o nosso orgulho a puxar por nós para elevar cada obra, seja uma panela de sopa, seja uma ária ou um desenho? Neste meu blog pareço tonta, por muitos assuntos que aqui coloco. Hoje surgiu-me este, como se eu não soubesse como se faz um texto sem interesse para um leitor.
As amizades serão ilusões? Porque às vezes intensas e imediatas mas reduzidas em tempo, feitas pó do esquecimento e do desinteresse. Embora todos tenham ou tiveram amigos, ninguém pode garantir quais e quantos nos amam de verdade. Penso, depois de ter deixado muitos pelo caminho, que só eu sei se amo refletindo no outro esse sentimento. Posso amar por um interesse subjetivo, por medo de me ver só, por caridade para com alguém e muitos mais motivos. Estou a enganar-me e a enganar. Aí chego à ilusão. Vidas inteiras mantemos os mesmos amigos, porque eles nos são úteis e nós a eles. Porque todas as pessoas falam que ter amigos é o melhor da vida. Mas isto não é amar, não é o amor sublime, aquele que dá sem esperar retorno. Amor é Liberdade. Livre como o vento, sem dono nem destino.
Acordei tarde, quase 9 horas. O calor a entrar pela janela aberta deu-me a sensação de estar em outro lugar que não identifico. Já estamos a meio da tarde e a sensação mantem-se. Sei onde estou, o que me permite o equilibrio necessário. Mas há uma sombra, talvez uma lembrança, uma tristeza leve, uma paragem no tempo que ficou do passado. Sou pouco dada a emoções por isso analiso este estranho dia que me divide entre o que vejo e o que é só sentir sem saber o que realmente sinto.