O fim de cada ano é físico e mensorável. Esta bela nave espacial onde vivemos, passeando no espaço, chegou ao ponto de partida. De novo se vai marcar cada hora, cada minuto de nova viajem, sobre o mesmo eixo e à volta da estrela que nos ilumina e aquece. E todo o mistério persiste para além da ciência, dos sábios e dos poetas. Para além do Tudo e das obras daqueles que inventam o Tempo com que se fabrica a imaginação dos homens. Agora é Marte o desejado. Haverá lugar para tantos sonhos? De onde viemos? Onde estará a Casa que abrigará a essência do nosso Ser? Na Teoria do Tudo a existência é total e inseparável de si mesma. Precisamos de entender isto para continuar.
Gostar de falar, brincar e rir fazem parte de todos nós. Daí partimos para o estado de repouso que é o silêncio, cheio de mistérios e dos mais variados sons. Aí se constroem os projetos, os sonhos, as desilusões e estas palavras. Nestes silêncios eu me procuro e por vezes me encontro. No reino da ideias ou no Amor do mundo, eu estou presente, de braços abertos para receber tudo que me dado. Agradecendo a amizade e a benção que vem. Apenas vem, no silêncio.
Nesta fim de ano que passou rápido, sempre no mesmo lugar e por isso sem mover o tempo, sinto-me vazia de ideias, sem projetos e portanto sem desejos. A aceitação daquilo que vem é a grande ambição para a sabedoria. Esta é calculada na paz interior que o sujeito pode encontrar. Não tenho o parecer de outrém sobre o que vou analisando pois tudo em nós é íntimo e sagrado. Talvez eu tenha sido um pretendente a filosofo, por isso gosto de analisar-me e tirar ilações. Acredito que já vivi muitas vidas e por elas respondo perante o espírito que me anima. Assim, sou juiz e réu simultâneamente. Isto é" tudo e talvez" não seja como eu penso que é.
Penso em mim como um ser em suspenso. Tudo que tenho é uma ilusão de vida. Os filhos foram doados, os primos são poucos e já filhos de primos de outros primos que nem conheci. Tudo resumido, tenho alguns amigos, mas poucos, porque os amigos contam-se nos dedos de uma mão. O que me alenta é o que dou, não o que recebo. Desejar fazer os outros felizes e ficar feliz também quando isso é possivel, já é gratificante. Amo a vida e nela está incluída tudo que existe, seja visível ou não. Agradeço cada prazer, embora não sejam muitos. Agradeço cada manhã, cada voz amiga, cada flor no jardim. Ponho de lado as dores, a velhice do corpo e os constangimentos que ela nos traz. Espero apenas. Dentro da minhas certezas, vou incluindo um futuro pacificado que já vislumbrei.
Completo o que vejo
e não desejo nada.
Talvez palavras
talvez abraços ,
violetas antigas,
frutas e rosas.
O mar no corpo
e o sol, o sol.
Nada me falta,
talvez o tempo,
é tudo vago
mesmo o que vejo
quando só vejo
o que quero ver.
Mágica é a vida,
mesmo sem tempo
para ser vivida.