Fecho os olhos e estamos todos. Falamos da nossa ignorância, falamos das incertezas, do passado longíncuo, até falamos do futuro, esse desconhecido. Todos somos Um, por isso assumo os dialogos impossiveis entre todos. Alguns estão fora deste plano, mas sugerem as ideias que vou tendo. Aproveito muito para a fala possivel, outras perdem-se na voracidade dos pensamentos. Assim invento a vida de todos os dias, entre o riso dos tontos e a amizade de poucos. Mas todos juntos, fazemos da fala o brincar infantil, como se todos os dias um fosse o último para um de nós.
entra no baile
pega quem quer,
seja homem,
seja mulher.
Tudo é normal
porque não
ou porque sim.
A morte tem sempre razão.
E é tal a certeza
e confiança
que seja o velho
ou uma criança
de todos tem cobiça,
todos são, todos são,
ninguém avisa.
A morte nada regeita,
seja o que for que viva
na matéria.
Alguns a chamam
sem nada saber,
se é espaço se é tempo.
E faz-se do pemsamento
a verdade de morrer.
Há sempre o espanto
e a dor de tudo ver.
Em cantigas é louvada,
em lágrimas alimentada.
Como é atrevida a Morte........
O meu tempo não é igual ao teu.
Enquanto o teu permanece,
o meu se desvanece
num imenso nevoeiro
e que parece a ilusão do tempo,
só meu e sem atrás ou frente
onde amparar o pensamento.
O vosso tempo não é igual ao meu.
Tentem medir as noites e os dias,
como eu os completo
e sinto e como eu, sentirão
o meu tempo a seguir em outra direção
enquanto o vosso permanece.
Sentir o tempo tem laivos de loucura.
Fecho os olhos e sou uma parcela
desse mesmo tempo.
que levar o pensamento
Hoje estou mais pobre. Mas alegro a alma porque foram dias e não semanas ou meses de dor sem esperança. Tenho perdido muitos amores, tenho perdido muitos amigos. Ao longo dos anos fico mais só, eu comigo, pensando neste eterno mistério que é a Vida e o que os humanos chamam morte. Algo que mete medo desde que vivemos, como um ser destruidor que nos leva da Terra para um lugar desconhecido. Mas há quem reconheça a transformação da Vida em continuidade, sem tempo por eterna. E há caminhos e opções em cada vida que começa ou recomeça. Será?
A proteção sempre me incomodou. Agora fico sem ar. Há muito vento frio e alguma chuva. É inverno e guardo-me dentro de casa, onde tenho tudo que possa vir a necessitar. Mas o amor pelo ar livre, por passear, por ir para uma esplanada, bebendo o café que os portugueses adoram, seria agora uma felicidade. É passado que revejo com saudade. Já foi. Resta analisar a nova vida, tanto aqui dentro como lá fora. A nova forma de viver, de encarar cada dia como se fosse o último. Gastar o que há e o que não há, em dívidas e promesas falsas. Há filhos de casais separados e filhos de uniões do mesmo sexo, juntos na mesma casa que nunca será um lar. As mentalidades em desenvolvimento tendem a isolar-se, muitas sem conhecer o amor da família que a nova sociedade desconhece. É a visão de um velho que cresceu no meio de imensas regras, algumas sem explicação racional. Apagou-se o mal, mas o bem também foi na enxurrada. Penso eu.
São pretos, fogem da vida.
São brancos, fogem de si.
Vendem balas e são brancos,
Compram balas e são pretos,
Todos, todos temem a morte
frente às balas, frente à vida.
E quando fogem são pretos
E são brancos quando matam.
E são gente quando se abraçam
E são irmãos quando traem.
E tudo tem um começo,
Longe que foi só de gritos.
Gente que morre num fim
que se ignora viver.
Eu choro por todos nós
E também fujo de mim.