Começo a escrever sem assunto escolhido. Estou num deserto de ideias. Não há pontos cardeais, nada me guia. Porque não há sombras, porque não há luz. Assim me sinto perdida dentro da tristeza em que vivo hoje. Pode estar tudo bem fora de mim, mas dentro, naquele espaço feito da vibração que me faz viver, parece existir um Big Bang energético, algo ainda desconhecido. E enquanto não escolho o que vai surgindo, ouço tudo e ouço nada, neste espanto que me altera. Sou rica de ideias, por isso me confundo. As palavras podem ser o trabalho desde que contenham projetos beneficiadores para todos em geral. Li o que escrevi, vazio e sem sentido, fruto deste estado de alma.
Enfim amiga, estás em Casa. A Casa que tanto imploraste quando a dor era maior do que o teu coração podia aguentar. Mas a Fé que sempre te amparou, manteve-se na hora da partida. A tua existência na Terra teve grandes amarguras. Guardavas tudo para ti mas por vezes, entre palavras sussurradas, ouvi tudo que eras capaz de dizer. Partiste com uma longa vida e muito amor que deste e recebeste. A Casa que é de todos será minha também. Só não sei quando!...
Com esta frase Mao Tsé Tung, no auge da sua loucura assassina, dividiu o céu entre homens e mulheres, ou seja, separou os humanos." A metade do céu "seria suportado pelo sexo fraco, como era apelidado, para servir o resto da humanidade. Este é o título dado a uma exposição de arte que se encontra no Museu Vieira da Silva, em Lisboa. Esta metade é uma totalidade, feita de mãe/filho, filho/mãe. Somos todos, em qualquer latitude, unidos pelo amor nas nossas relações. Ao ler uma opinião na revista do Jornal Expresso sobre a exposição, guardei a frase pelo seu significado e pela beleza sugerida. De tudo construo poesia, de tudo tiro o belo para juntar palavras. Assim passam as horas.
Este mês de Abril viu partir quatro residentes deste mundo fechado entre a morte e a vida. E até um trabalhador conceituado deixou este espaço. Para melhor, espero. Amargura para cada dia, até o tempo levar as lembranças que todos vão deixando. Alguns ficarão na memória, depois a memória é desfeita em mim.
Uma mesa redonda e cinco senhoras conversando. Havia um lugar e pedi licença para me sentar. Por uns segundos fez-se silêncio, mas logo as conversas continuaram. Procurei entrar no assunto. Logo me senti estranha porque havia vários assuntos cruzados e desiguais. Concentrei-me quando percebi que estavam a comentar uma notícia do dia que me interessava. Mas a pessoa que dava a notícia voltou-se para outra senhora e disse; "sabes que ele foi casado com ....... que é conhecida pelos vestidos do costureiro....... Ai já sei. Levou um vestido amarelo à festa no Porto." Outra entrou na conversa sobre algumas roupas, e assim por diante. O assunto que estava a ser analisado perdeu-se e eu desisti dele. Poucos minutos depois ouvir falar de sapatos, de viagens, ou apenas percebi vozes com exclamações. Dei as boas tardes delicadamente e deixei o lugar que afinal não era meu.
O dia amanheceu sereno e fresco. No ar puro, o canto dos pássaros era um hino à natureza. À porta da velha casa a cadeira da avó estava no mesmo lugar. Era aí que eu esperava a minha neta Maria, para a ajudar na sagrada hora de deixar a vida terrena. Ela já está ao meu lado, amparada no velho cajado que eu usei. Está velha, coitada, depois de uma vida de trabalho e poucos recursos. Sempre nos entendemos bem e eu pude sugerir-lhe bons pensamentos que ela aceitou com amor. Por isso, sua vida foi mais calma que a dos irmãos, todos com o coração fechado aos mistérios que nos cercam. Quando ela se sentar, abraça-la-ei e assim faremos a transformação para a Vida futura. Eu, no meu corpo energético, fui convocada pelo Espírito Superior para cuidar da minha família de Almas, quando regressem a Casa. Com igual Amor entre todas, combinaremos os projetos que farão das futuras encarnações as possiveis tarefas que nos estão destinadas. A palavra destino comporta a fé, a esperança e a caridade de que toda a Humanidade é ávida, logo que entra na Terra.
E cheguei a este ponto.
Nesta toada que canto
sem ter as palavras certas.
E cheguei a este ponto.
Falo do inverno que foi
e da chuva que não vem,
do vento, das flores que ficam,
quando o vento todas leva.
Falar do tempo que veio,
reinventar o inverno.
O mar sobe pela areia
e se o olho perco a fala.
E cheguei a este ponto.
De que vale dizer sim?
Ai minha mãe
quem me acode?
Caída no chão da vida,
choro por tudo e por nada.
Cheguei ao ponto de ser
uma criança perdida.
As respostas que procuro estão nas aspirações, desejos e sonhos ainda por encontrar. Tudo se cruza como numa dança ao som de uma música audivel no meu pensamento. É a procura de Beleza, de que todos precisamos e de nos sentirmos parte de uma comunidade. A criatividade só é boa quando é uma experiência partilhada. Não importa o destino mas a viajem. A beleza é invisivel quando se trata de uma bela ideia. Aqui não se fala de estética mas de subestância. Ainda busco uma Atlântica que não existe.