No fim dos tempos, hei-de fazer flores só de as pensar e lindos pássaros e música e sons. Terei o que hoje não sei que terei, por isso sonho. E de tanto sonhar pensando, eis que divago sobre a vida vivida e o reflexo dela nas vidas ligadas à minha. E o que de útil estou fazendo. Tenho presente a vida que virá, nestes cíclos que todos construímos sem o saber. Porquê? Para quê? Há pessoas que captam e entendem os mistérios e deles falam e sobre eles escrevem. Eu apenas procuro. Quem sabe quando saberei?
Para mim, pelo que vai dificultando o meu dia a dia, a velhice é um fardo dificil de transportar. Penso que é um recado da Vida, a dizer como deve ser melhor a partida, perante as perdas que estou a pressentir. Nada muda o meu Amor por tudo que já vivi e por tudo que estou vivendo. Apenas sou confrontada com este desconhecido a que dou o nome de limites. Quanto ao sofrimento, estou a vivê-lo como um produto da mente, que o coloca para destabilizar as minhas crenças em outras vidas úteis a toda a humanidade. Dizem que o futuro a Deus pertence. Mas Deus somo todos nós, à Sua Imagem e semelhança, seres criadores, dotados de muitos poderes, que até podem mudar o mundo. Essa esperança eu tenho, só não sei como. Um dia talvez venha a saber...um Dia.
Com tanta informação a circular pelo mundo é muito dificil ter certezas claras sobre o que realmente acontece. Todos dão opiniões, o que confunde a nossa. E a dúvida, que é construtiva, também pode deminuir a nossa capacidade de ter ideias sobre tudo e todos. Por vezes tiro o som, para não ouvir os comentadores politicos ou os queixosos da vida. De tudo sobram interesses, invejas e ganâncias. Neste silêncio em que vivo e gosto, já sinto a distância entre os meus valores e os atuais. Nem dá para pensar nisto. Só o tempo poderia responder.
A consciência de mim exige movimento, ação e provas de que ainda estou na Terra em pleno. Mas o corpo, ouvindo as ordens vindas do interior, não as cumpre e mantên-se apático, imóvel, malandro. Na cadeira estou bem, a dar ordens para dali saír, que o trabalho espera e o passear também. Por graça afirmo-me desligada da corrente. Por graça, rio-me desta imagem que tenho de mim, os restos do tempo vivido num espelho inventado. Estou muito gasta, mesmo fora de tudo que me envolve. E por hoje é tudo.
As, lembranças são coloridas, cheirosas, de pele e visionadas com o terceiro olho, ou seja, com a visão interior. Assim se desenvolve a memória mantendo dentro de nós o que se ama e também o que nos incomoda, mesmo que se queira esquecer. É um livro, cujas folhas teem vida e vibram para serem lidas. Por tudo isto a memória é um tesouro a alegrar os dias que passam em silêncio, fazendo da saudade o mote para a vida.
Nasci em Fevereiro, signo de Aquário. Pouco sol, alguma chuva e perto do fim do dia. Chorei muito com fome. Dizia o povo que era perigoso dar a mama antes das vinte e quatro horas de vida, portanto grita e chupa no dedo. Eu perguntei tudo para saber o meu princípio. Tudo repetido, tudo explicado. Quando aprendi a escrever, teria seis anos quase sete, apontei o que sabia e o meu Pai guardou. Só quando ele partiu me foi dado ver a "gracinha" entre coisas pessoais. A nossa existência tem pequenas maravilhas que nos comovem e nos compensão de outras que doem até à alma. Lembrei hoje, não sei porquê. Talvez os dias a encurtarem e o vento frio das tardes me levassem ao meu inverno interior. Ao colo da Mãe, aos braços de tanta gente que me amou e não sei onde está. E choro de fome, como antes. Tão perto... tão perto...