Abraçados entramos no mar. Tudo parece real ali, entre partículas de chuva. É denso o nevoeiro mas não importa a visão. Os sons, sabemos, são audiveis, a água é compacta. Abraçados continuamos, sem chão e sem futuro. Assim nos idealizo pelo mar adentro. Como fomos, nós talvez, somando vidas, olhando os tempos. Os mundos têm energias que nos atraem. Para chegarmos vamos nas vagas, abraçados, amando o Amor que constroe os universos. Como fomos, como seremos.
Fui atrevida, namoradeira, dançarina e muito mais de tudo. Fui mulher, trabalhei, paguei o pão, dei pão e fiquei rica. Vivi. Hoje sinto calor de braços, de todos que foram o meu aconchego. Estou num ano com um número dois. Este ano levou muitos amigos e eu fiquei a sentir as perdas. O número é um código que eu tento decifrar. Vem aí o quatro. O meu é o cinco, dificil e definitivo. Talvez seja o tal.
Parece noite quando o dia brilhava ontem na lembrança. E eu fiquei doente, sem energia para sair do quarto, sem vontade, sem alegria. Este ultimo ano tem me escondido de mim. Procuro-me e não me encontro. É estranho. Tenho sono, estou apática, talvez indiferente. Há mudanças no fisíco e no mental. Desejo abrir minhas asas e subir no pensamento até a Casa. Até ao Reino de onde vim. Não conheço o caminho nem sei se existe. Mas quero procurar, dentro do zero que sou, aquilo que fui. Estou triste porque não gosto de ser isto que sou. Quem dera entrar numa onda e viver novamente o sabor a sal...
As Empresas que nos servem a alimentação, apresentam uns servidores competentes, atenciosos, com os quais se desenvolve uma boa relação que, por vezes, chega a atingir uma nova amizade. Em meses de convivência, é natural que as pessoas conversem, falem dos seus gostos, origens e projetos. Assim tem sido e continuará a ser, porque todos temos sentimentos que nos unem, sejamos servidores ou servidos. Por isso lamento o triste costume de transferirem o trabalhador num silêncio total, sem um adeus ou até um abraço. Não é humano, não é socialmente aceite. Assim se vive como se de um malfeitor se tratasse. O que se ganha com isto? Mas perder sim. Perde-se o contacto humano e a lembrança de alguém que foi delicado connosco e até nos ajudou quando foi necessário.
Caminhados os caminhos, abertas as portas possiveis, cheguei. Em muro imaginário estão a angústia, o medo, a ansiedade. Tudo para entender as palavras que o tempo levou e que foram a calçada palmilhada em todas as vontades. Entre o sol e as estrelas há solidão, silêncio, saudade. Enquanto espero, tudo isto parece um sonho, tanto de difusa é a memória. Ontem e hoje são a mesma prece, o mesmo devaneio. As cores da vida já se entrelaçam numa só. Porém ainda amantes.
Quando eu penso que sei lidar com o meu portátil, esbarro com termos exóticos, cuja tradução pode ser um código que desconheço ou um jogo de azar. Depois deparo com termos técnicos ainda mais indisponiveis. Enfim, sinto-me analfabeta e muito parva, por julgar que estou apta a decifrar estas novidades. Pedi ajuda mas tenho de ir à CGD aprender e entender estes bloqueios. Conheço pessoas que, tendo filhos ou parentes ativos, não se preocupam com as despesas que fazem. Mas nada é melhor que a liberdade de decidir, agir e depois enfrentar as consequências dessas decisões. E ser parva e tudo o mais que sou. Ainda tenho boa memória e vou aprender como isto se faz.
Rir de mim faz parte da política do País. Dito isto, devo dizer que votar foi um gozo quando o fiz sem PIDES a olhar por nós. Agora é um dever que cumpro com agrado. Mas ontem foi muito dificíl devido ao cansaço do meu coração. O orientador à entrada estava desorientado e indicou o local errado para encontrar a mesa. Assim andei a passear pela Escola com a bengala à direita e o braço de uma auxiliar, indicada para me acompanhar, à esquerda. E fiquei de rastos e fiquei sem o meu orgulho. Sim, porque isto também existe na velhice. Talvez para ajudar a salvar o que resta da vida.
Cortada em quatro, sugada até à casca, o sumo doce e fresco escorrendo pelos lábios, o sabor guardado pelo prazer de o sentir, é uma oração à Vida. Cada fruto é tudo isso, mais a graça de o possuir, mais a alegria de o apreciar. E também saber que são alimento de animais que, por sua vez, pertencem à cadeia alimentar onde estamos inseridos. Nesta oração entra a esperança de um dia haver laranjas para toda a gente.
Há muitos saberes para cada palavra. Basta um olhar matreiro enquanto se pronuncia uma palavra de sentido justo, para que a mesma se transforme em algo bem diferente. Em cada ouvinte há uma receção pessoal e única. Por isso deve haver cuidado com as palavras e com o ton de voz, como com as expressões faciais, gestos, etc, etc. Estudei pouco Filosofia mas li muito Li os filosofos mais conhecidos na Europa, não em profundidade mas de forma a obter algum conhecimento sobre a vida vivida em sociedade, com auto-análise e auto-critica. Assim, estes pequenos textos são fruto de alguma ignorãncia e de pouca sabedoria. Ajudam-me a ser e isso basta.