Tantas são as emoções que me atormentam nestas datas festivas que delas e por elas não tenho palavras que as descrevam. Saudades, lembranças, boas e menos boas, enchem os dias. Falta vontade para ler, ouvir música , arrumar a pequena casa, trabalhar em algo útil. Durmo, vejo televisão, vou comer, digo duas ou três palavras, (que saudades tenho do silêncio da mesa só para mim), e tento ficar na sala por alguns minutos para não voltar cedo para casa. Não gosto da maioria dos residentes, cuja conversa não varia entre doenças, tempo e criticas a tudo quanto existe. Nada é comestivel, nada agrada ao sabor e à visão. Também para mim há muitas falhas, mas poderei pedir mais à Vida?
Faltam palavras e faltam ideias que diluam o peso da realidade. À procura de algum alivio usa-se a distração, que não é mais do que o auto engano. Afinal nada muda porque a energia que nos rege é para ser vivida. Não adianta fugir, tenho de sentir a tristeza, o amor e a saudade. E de tudo à minha volta, sejam as calamidades, seja o excesso de informação, seja o que for. Estou cheia de tudo e vazia de mim. A ansiedade acelera o batimento cardíaco, o que provoca cansaço na forma de respirar. Vou jogar para distrair os maus pensamentos e os bons também.
Tenho e guardo tudo que me faz feliz. Apenas me falta o riso fácil, aquele fogo no peito, a sensação de conquista ou de vida bem vivida. Agora estou dependente de algo que desconheço para que volte a viver tudo que julgo que sou. Este sentimento de ser ou estar é o sentimento de si, da persona, de sermos nós no mundo cheio de "sis". O encanto da vida está neste mistério que não nos é dado decifrar para o entender. Mesmo assim, tenho muito para ser agradecida. Ontem vivi o Natal fora do Natal, que foi a visita da "minha" bisneta a brincar no meu mundo. E ainda se mantém, numa lembrança de brincadeira e glória.
E como teria sido se eu cumprisse o meu sonho? Deixei para trás as Artes e não lutei por aquilo que sempre me atraiu. E fui ganhar a vida em outro caminho, onde encontrei a sustentação até hoje. Mas o sonho está ainda vivo e vou leva-lo para o trazer de novo, mais forte e mais vital. Quanto de mim ficou no vazio das decisões mal tomadas que tiveram de ser vividas. Mas muito ficou na alma como aprendizagem e conhecimento. Mesmo agora tudo me serve de amparo perante o desconhecido, que é a morte já presente.
O dono da cozinha é anjo sem asas. Uma vez bríndanos com uma boa refeição, outra vez inventa algo como um pastel grande, de massa grossa, recheado de espinafres. Um horror. Um peixe à madeirense delicioso ou carne prensada, completamente queimada, em figura de bife. Que fazer a estes trabalhadores que não amam o que fazem? Mais educação? Mais euros? Ou melhor matéria prima para que tudo saia comestivel? Quem me dera saber, embora o mistério se mantenha para mim, que estou velha e talvez rabugenta. Não falo mais de comida. Tenho de comer e pronto. E por aqui me fico.
O cheiro projeta-se em mim logo que leio o menu. O sabor forte das carnes aliado aos legumes, ,ao arroz, ao feijão e aos enchidos, dá a este prato um gosto que agrada à maioria dos potugueses. Por isso esperei o almoço com satisfação. O prato vinha bem composto, com couves e a carne que eu gosto. Mas a bela couve estava crua, o arroz frio e sem sabor, o feijão mal cozido (não era feijão para este prato) a batata crua. Estava boa a carne, a cenoura e o nabo. É pouco para quem deve ser alimentado e respeitado. Cozinhar é um acto de amor. Os cozinheiros devem respeitar a comida, evitar os restos e o lixo, e sentir que estâo a cumprir um dever perante pessoas que lhes pagam o trabalho em troca do alimento necessário á vida. Quem dirige tem de agir rapidamente.
Esta energia que faz parte de todos os seres vivos, é tão poderosa que lhe podemos chamar o poder criativo ou a vontade de viver. É a primeira pessoa da Trindade de todas as religiões. A segunda pessoa é o Amor Sabedoria e depois a Inteligência Criativa que pode ser o Espirito Santo, na fé cristã. Todas se intercalam, todas inseparáveis, todas se completam. A Vontade, tal como o Poder, podem gerir toda a nossa força para construir a Vida que escolhemos, a que chamamos destino. Mas sem o Amor Sabedoria não sabemos viver em sociedade, nem criar as geraçôes dependentes da nossa Inteligência Criativa. Pensar sobre tudo isto é caminhar na direção futura, na glória da Vida Eterna.