é longa e triste. A tristeza é minha, a noite nada tem que ver com o meu medo e a minha ansiedade, a angústia que eu sinto por não ver o sol. Para alívio recordo o mar, eu nele como se fosse o meu mundo, a água fresca a levar-me ao colo, o ruido de cada onda. Há muitos anos que não sinto o mar, desde que o meu coração começou a enfraquecer e a alterar o batimento quando entrava n a água fria. Ainda sinto as alegrias de um dia de praia, molhada sob o sol de verão.
Neste sem fim de atalhos que estou encontrando e que tenho de escolher para viver os meus dias, há decisões tristes e há decisões perfeitamente idiotas, há cómicas, etc, etc. Assim, analiso sentimentos e analiso os passos mais racionais que vou dando. A Mãe Natureza, como qualquer mãe, ampara-me na caminhada, porque eu sei que é a ela que pertenço e por ela vivo. A humanidade pensa e promove erradamente, que a Terra lhe pertence e pode fazer dela e nela tudo que lhe der prazer. Errado. Somos nós que lhe pertencemos para que a vida se complete. Para que o Infinito nos leve a Casa em dia distante, onde não existe Tempo nem Espaço. Onde Tudo é.
Quando se escreviam cartas a amigos, namorados ou familiares, libertavam-se sentimentos. Ficavamos aliviados, libertos de pressões que nos mantinham presos a determinados pensamentos, Cada carta, mesmo com poucas linhas, podia dar origem a muitas alegrias ou até tristezas. Havia uma ligação humana que não pode existir na troca de um e-mail ou mesmo na conversa telefónica. Não se usam as mesmas expressões, os mesmos sinais que unem duas pessoas. Escrevi e recebi muitas cartas, muitas de amor, apaixonadas e comoventes. Cada geração fará o seu caminho e dele tirará o que eu tiro do meu: algumas dores mas muitas, muitas alegrias.
De todas as cores, com flores ou desenhos simbólicos, eis a nova moda para todos os rostos. Desta forma a defesa é maior ou até completa. Mas o aspeto é péssimo porque os rostos estão escondidos, Olhos novos ou velhos não expressam o valor de um sorriso, de uma boca triste ou húmida de chamamento. É para mim, uma forma de alterar uma conversa para mais difícil e até conversa incompreensível. Muitas são as pessoas que sentem falta de ar e respiram com esforço. Como estou há meses em casa quase não me mascaro, digo, uso a defesa contra o ser invisível que castiga toda a humanidade.
É tudo subjetivo ou seja, cada palavra escrita não é igual no seu significado quando for lida, Há nuances, há motivos que deformam a ideia do escritor. Pode parecer estranho este pensamento, mas ocorrendo pode e deve ser analisado. Claro se a palavra escrita for madeira, o seu significado é uma matéria natural que tem muitos métodods de ulilizaçáo. Mas se for árvore, o leitor pensa em uma espécie que lhe seja cara ou próxima, podendo assim alterar o que o escritor idealizou. Nada é o que parece no mundo das ideias Porque pensamos de modo diverso e construimos diferentes projeções. Só, neste quarto, como se fosse uma casa grande, viajo pensando, idiota e triste. E por isso estes raciocinios obliquos e insanos. Mas o uso de cada palavra, escrita em silencio, serve para alimentar a vocação e o prazer de dizer coisas que ninguém teria paciência em ouvir.
Estamos de novo a sentir o medo de algo invisivel e invasor. Ordem do dia, ficar à espera que o tempo passe até novo teste, comendo no quarto e usando a imaginação para não ficar maluco nesta solidão. Talvez escrevendo para o lado do avesso encontre uma risada para e sobre mim. Estou como uma dobradiça, cansada de virar e de tudo que vou pensando sobre esta fase da vida de todos nós.