Para lá do rio há um monte.
O Tejo aqui é quase mar.
Vejo o monte porque é alto e verde
e adivinho nele os arvoredos, talvez pinhais.
Perto, vejo prédios que à noite brilham.
Entre tudo isto há um jardim e mais,
muito mais, porque vivo nele,
no meio de gente que também lhe chama seu.
Desta janela sempre aberta, sinto o pulsar
de um mundo que não esperei encontrar
mas onde hoje vivo e luto e sonho.
E ouso projectar, como se o tempo
se orgulhasse de mim.
Com as palmas das mãos viradas ao céu,
pressinto as energias que me amparam
e favorecem se forem entendidas.
E se estas palavras parecem delírios,
que sejam uma oração delirante.