É licito e até suave guardar objectos como lembrança e mais tarde rever esses guardados com alegria ou com tristeza. Por vezes com indiferença. Abrir mão de cada coisa e aventá-la, pede alguma coragem e a consciência de que nada nos prende a essa recordação. Caixas e caixinhas, bonecos, frascos de perfume, que estando vazios, são elegantes ou teem uma história secreta, roupas antigas, usadas por alguém amado, etc, etc. Assim, gavetas cheias, são pequenos museus de faz de conta, que todos nós queremos deixar aos nossos parentes. Estes, após a nossa partida, terão muita dificuldade em encaixá-los nas suas habitações modernas e até encontrar neles alguma razão para os manter em casa. Se houver valor monetário, aí sim, serão benvindos. Estes meus guardados estão a ser deixados no caminho. Pessoas amigas, mas estranhas, gostam e aceitam como presente. Tratam de mim com carinho e é só e é muito. Os amigos antigos não estão já aqui, a família partiu também. Guardar, para quê? A vida é um rio, onde todos vamos sem retorno. Basta lembrar, para ter. Tudo e todos existem dentro de nós. Aí está a vida eterna.