Às portas do tempo parei, indecisa. Tinha de escolher por onde passar. As portas não teem portas. São espaços abertos como os nossos pensamentos. Assim, são criadas tal como as pensamos. Grandes, pequenas, de estilo, como aquelas que a memória guardou. Criei uma para mim, alta e estreita e avancei. Mas o mêdo estava colado ao tempo. Olhos de farol, vermelhos, sem corpo. Então vi cada porta. O mêdo estava em nevoeiro cerrado, ou em fogo ou naquilo que eu temia e me paralizava. Tentei ligar-me em oração. Tentei ouvir o tempo. Mas entendi que o mêdo faz parte de nós porque tememos a Morte. Agora não penso nela e estou passando a porta que escolhi. Estreita, difícil, cheia de ventos e caminhos desconhecidos. Mas amparada pelo Amor de muitos que, como eu, estão a passar as portas do tempo. Nada sabendo de tempo nem de pensamentos que fazem mêdo. Que pensarão de mim? Porquê e para quê invento estas loucuras?