No verão de 2009 havia uma pequena taberna que servia boa comida perto da casa onde eu vivia. Situava-se num local sossegado e o portão de entrada dava para um largo corredor coberto de latadas. Sob estas colocavam mesas que, à sombra de tantas videiras e com cachos de uvas a crescerem aos nossos olhos, tornavam as refeições especiais. O sol e a brisa de verão davam ao local as sensações de campo, que há cinquenta anos ainda existia em muitos recantos de Lisboa. Como sempre me movimentei sózinha, procurando estar em locais que me dessem boas sensações, tirando delas aquela alegria de viver que sempre senti, escolhi a pequena tasca para almoçar, gozando o calor do verão. Recordo as belas sardinhas, os fragos de churrasco, as fatias de melão, acompanhados do trinado dos canários, cujas gaíolas balançavam sobre a minha cabeça. Não voltei mais, desde que verão terminou. Ali escrevi, como que a despedir-me, uma quadra que me decifra:
Sentei-me à mesa comigo,
Serena, em dia de paz.
O que para uns é castigo,
Só alegria me traz.