Dia de S.Martinho. Festejo em casa de velhos. Para quê? Para os alegrar, para os distrair? Mesas redondas, cadeiras de rodas e bengalas encostadas, tudo bem decorado. O coração da Casa a aquecer os hospedes debilitados e nós envoltos nesse carinho que se aceita como lógico e necessário. Empregados de mesa atentos para aligeirar qualquer deslize. Algumas conversas por outras mesas como ruído de fundo. Eu ocupei um lugar vago numa mesa já cheia. À esquerda e à direita estavam duas senhoras de noventa anos, ambas surdas e silenciosas. Dediquei-me ao que serviram e apreciei a refeição. Uma sopa de abóbora servida em terrina de abóbora que brilhava pela sua cor, como uma luz acesa. Um prato de carne muito leve, com legumes e fruta e uma sobremesa deliciosa com batata doce embrulhada em massa fina, como uma trouxa, acompanhada de sumo de maracujá. Depois um café fraco, como convém. E uma saudade imensa a sobrepor-se ao presente, que sendo bom, abre janelas ao passado para todos serem sentidos e recordados.