Ao rir de mim, das mazelas, dos esquecimentos inesperados e das situações ridiculas que vou criando, entro no espaço do humor que alivia muito a sensação de perda que tudo isto provoca. Esta forma de viver a velhice é também um teatro interno, de mim para mim, comparada a uma filosofia de vida. Vivo todas as angústias de um futuro sem futuro e tal como Pessoa também pergunto "amanhâ onde estarei?". Assim vou inventando possibilidades e existências que só existem num lugar especial de felicidade e amor. Tudo isto para contar a perda e o achar de algo, quase íntimo, enquanto dormia. Como comer sem dentes se os mesmos haviam desaparecido? Como pude estar tão fragilizada que perdi o controle da minha boca? E assim, procurando, já quase a pedir ajuda, encontrei os voadores sob um móvel. Tudo inteiro. Mas para mim foi mais uma prova de quanto estou a perder concentração e memória.