Quando os sons de fora são menos audíveis dos que os de dentro, inicia-se a vontade de criar. Pode ser fazer uma costura, um desenho, ler o Livro do Desassossego, escrever aqui ou em outro lugar. Mas tudo é silêncio, privado, por não haver quem peça para ser mostrado. Todos estão no mundo das doenças, dos testemunhos médicos e do medo da morte. Os olhares dizem que já não estão onde estão, embora vejam cinema que a Casa organiza ou conversem uns minutos sobre o tempo e as respetivas dores. Não sabem ou não querem saber os males do mundo, nem das suas maravilhas. Cada um sabe de si, por isso não devo fixar-me nos outros. Eu também sou velha, mas como não sinto o peso da depedência, reajo mais animada aos cuidados que me dispensam. Quero deixar aqui hoje um pouco da falta que sinto de ti, Companheiro. Aquele que dava a mão protetora e ria comigo e de mim.