Escrever sobre ti é muito dificil, porque o "não ser visto" altera o meu raciocinio. Sei que existes, embora haja dias em que as dúvidas são mais que as certezas. Quando nascestes fui ver-te, ansiosa e chorando, levada pela mão de uma tia. Sendo inverno e caminhando ao frio pela futura Alameda D.Afonso Henriques, que na época era campo, com rebanhos a pastar e quintas cultivadas, a tia só pedia pressa às minhas pequenas pernas que ainda não tinham três anos. Entre a casa da minha Avó, onde eu dormira, e a dos meus Pais, seria uma meia hora a andar bem para um adulto. Eu lembro o caminho, a boneca que levava comigo, o passeio estreito e mal calssetado e a pressa que me era exigida. Porque havia uma menina à minha espera. Depois recordo os teus olhos pretos e o meu dedo a tentar senti-los, o que causou alarme a todas as mulheres. Por mim foste bem vinda. Depois nada correu bem entre ti e a Vida. Volto a despedir-me, irmã. Nesta ignorância em que todos estamos, como dizer adeus a quem se amou?