Êste dia de primavera não tem sol nem chuva. Só nuvens para embrulhar o dia e arrefecer os corações. Talvez por isso, eu estou triste. Por mim e pelo que vejo aqui. Ao falar com alguém que me aborda, verifico um raciocínio confuso, que me obriga a acompanhar para não causar confusão maior. E não é só uma pessoa, não.Isto doi e muito. A velhice é enganosa entre a aparência e a mente. Há pessoas que se apresentam bem e até ligeiras nos seus movimentos, mas cuja doença mental as está destruindo. O doente não pode observar-se, por isso se comporta como se estivesse são, dentro da sua realidade. Há por vezes, ditos e situaçãos que provocam o riso àqueles mais afastados do sentimento da compaixão. A mim faz-me mêdo e muita, muita tristeza. Há antigos professores, médicos, sei lá. Pessoas que tomaram decisões, foram úteis. Hoje não se conhecem e esquecem refeições. Tudo com medicação, cuidados, ano após ano, nestas vidas sem fim. A morte está presente, mas brinca de esquecida, apenas ameaçando. O hospital melhora e regressa a esta coisa sem graça, a que chamam de "linda idade". Meu Deus, que delirio é este que não mata, só espera.