Era no tempo em que o tempo estava esquecido. Os dias eram longos. O clima era quente. Era no tempo em que se crescia lentamente. Os pais mandavam, os avós mandavam. Os livros eram poucos e todos eram estudados. A caminho das escolas todos eram capazes de andar quilómetros para lá chegar. Eram parcos os transportes públicos e raros, rarissimos, os particulares. E Lisboa era grande para pernas pequenas. As ambições eram poucas. Tudo se resumia em passar no exame, nas festas anuais, num presente útil e pouco mais. Nem havia informação e também não havia troca de ideias políticas. Os jornais eram lidos por pouca gente e eram caros para muitos. Entre o tempo em que o tempo não era lembrado e o agora, em que não sobra, há todo o tempo do mundo. E há uma força que nos esmaga contra o chão.