A criatividade não existiu quando eu era jovem, porque não era falada a palavra na linguagem corrente. O criativo era um ser fora do habitual, olhado como alguém sem regras. Uma roupa de cor forte, um penteado diferente, uma escrita ou desenho que deixasse o observador sem entender o que o autor expunha, eram alvo de opiniões depreciativas que corriam de boca em boca. E nunca se dizia criativo mas louco, tonto ou muito pior. Claro que alguém chamou as atenções e foi criticado. Continuou na sua loucura e outros o seguiram. Assim a palavra, com um som suave, foi ficando, sem se saber por onde entrou. Hoje, felizmente, todos podemos ir criando a nossa vida, dia após dia. Olhando para trás, vejo como foi sempre assim, apenas a palavra estava esquecida dentro do Dicionário. Não era ignorância mas medo. Medo da novidade, medo de perder o que parecia estar seguro. Medo das velhas fogueiras, que pretendiam queimar o que não arde: a liberdade.