Quando eu era flor, fui violeta. Pequena, perfumada e selvagem. O campo era a minha segurança, entre iguais cresci um pouco, ao sabor de brisas e águas frescas. A Pângeia era o único continente que o mar abraçava. Quando a Terra tremeu fui levada e plantada de novo, continuei violeta, mais perfumada, menos selvagem. Conheci mãos delicadas que me colheram sem sofrimento e anjos que me levaram ao colo para o paraíso. Depois ansiei por outra Vida. Bastou pensar, tive asas mas não sei onde estive. Depois...depois, fui vivendo de ilusões, sem memória, criando-me por vontades desconhecidas. Na memória das células deve estar escrito o poder de fantasiar e amar o caminho percorrido. De ser gente e gozar a alegria de ainda ser violeta, perfumada e selvagem num velho coração.